São Paulo, terça, 24 de junho de 1997.



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ARTES PLÁSTICAS
Exposição "Intervalos", paralela à Documenta de Kassel, trabalha os dois temas com obras de 22 artistas
Paço entrelaça memória e conceito

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Detalhe de obra do artista José Damasceno criada com roupas e barbantes, exposta na mostra ''Intervalos''


CASSIANO ELEK MACHADO
da Redação

Memória e conceito. Em torno desses dois temas a curadora Vitória Daniela Bousso reuniu 22 artistas brasileiros de ponta.
O resultado pode ser visto na exposição "Intervalos", que começa hoje no Paço das Artes, na Cidade Universitária.
Como reza o ditado, "na teoria a prática é outra". Nem só de lembranças ou de discussões conceituais é formado o amálgama da mostra. Uma das ligas mais consistentes entre os 85 trabalhos da coletiva é um posicionamento crítico em relação à vida cotidiana.
A carioca Rosana Palazyan, por exemplo, foi buscar um ponto de vista pouco ortodoxo de uma cena presente no dia-a-dia nacional: a representação da Santa Ceia -tal como foi traçada por Leonardo da Vinci.
A artista isolou as figuras de Cristo e seus 12 apóstolos. A parede branca exibe apenas fotografias de mãos que reproduzem as dos personagens da "última refeição".
Com a fusão de "materiais banais" do cotidiano, como panos de chão e barras de sabão de coco com pequenos retratos de pés e mãos, a artista Lina Kim busca a "transcendência do existencialismo social".
A visão crítica da sociedade contemporânea também aparece no trabalho da artista Sandra Cinto. Trabalhando com delicados desenhos de lustres e árvores em uma parede amarelada -na qual está afixada uma escultura de uma "flauta modificada"-, Cinto constrói uma "nova realidade". Admitindo um "pezinho no surrealismo", ela diz: "A realidade não anda muito boa".
O dia-a-dia também é tema do consagrado José Resende, que, entre outros trabalhos, trouxe ao Paço das Artes uma espécie de "ready-made" formado por uma sequência de escovas (de cerdas de aço) emendadas umas nas outras.
As obras de alguns artistas se mantêm circunscritas aos dois grandes temas da mostra, paralela à Documenta de Kassel, megaexposição na Alemanha.
Muitos trazem para o público aquilo que está nos arquivos mais privados da memória. É o caso dos trabalhos de artistas como Efrain Almeida, Stella Barbieri e Nazareth Pacheco -que, por exemplo, pontua suas instalações com elementos que guardou de operações que sofreu, como laudos médicos.
Outros se voltam para a densidade conceitual. É o caso do artista paulistano Paulo Climachauska, que pretende discutir os limites do pensamento escultórico e a "tensão que permeia o circuito de informações dentro de um sistema".
"Intervalos", que ainda reúne grandes nomes como Waltercio Caldas, Carmela Gross e Rosana Paulino, promete terminar em grande estilo. A curadora da Documenta, Catherine David, chega em outubro para participar de debate.

Exposição: Intervalos Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, tel. 011/813-3627)
Vernissage: hoje, às 20h, com performance de Laura Lima Quando: segunda a sexta, das 13h às 20h; sábado, das 9h às 13h



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