DA REPORTAGEM LOCAL

A harmonia de casais em situações cotidianas é a tônica da mostra que o artista Mauro Piva inaugura hoje na galeria Fortes Vilaça. Seja nas instalações em mesas distribuídas no espaço expositivo ou nos quatro trabalhos pendurados nas paredes, os desenhos de Piva apontam para um universo onde só há paz na convivência em duplas. Aconchego e carinho são imagens recorrentes.
Já nos trabalhos onde há pessoas solitárias, a impressão é de sofrimento, impaciência.
"No início de meus trabalhos utilizava figuras sem representar gêneros, mas nesta nova série todas as imagens possuem um papel", diz Piva. Os desenhos de homens e mulheres estão inseridos em ambientes que lembram as plantas baixas usadas para divulgar a venda de imóveis. Rapazes estão simbolizados por camisas de cor marrom, e garotas, de camisas cinza.
Embalado pela onda de "reality shows", Piva expõe a intimidade de grupos humanos em ambientes fechados. "São situações comuns, alguns desenhos são baseados mesmo em locais reais", afirma o artista. Para permitir o adequado voyeurismo, Piva instala as imagens em mesas e prateleiros. Assim, é possível observar as imagens na mesma dimensão em que Gulliver convivia com os habitantes de Liliputh.

Explosão sexual
No entanto, em certas obras, as figuras acabam perdendo sua representação humana e tornam-se elementos abstratos. As pessoas, ou mesmo os móveis, transformam-se então em elementos formais, construtivistas. A ordem interna das imagens sobrepõe-se a possíveis significados.
No mezanino da galeria, o artista português Julião Sarmento apresenta novas obras da série "Pornstar", exposta em sala especial da 25ª Bienal de São Paulo. Em dimensões menores, as telas apresentadas são agora menos figurativas. A mistura de corpos é uma sugestão e a descoberta das partes humanas são um desafio. Enquanto a harmonia de Piva é recatada, Sarmento faz uma explosão sexual.
(FABIO CYPRIANO)