São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
Artista pertence ao segundo período do modernismo brasileiro e integrou o grupo Santa Helena
Pinacoteca desvenda Raphael Galvez

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


No octógono da Pinacoteca, duas esculturas em gesso são o prelúdio da exposição de Raphael Galvez. São as primeiras das mais de 300 peças selecionadas para esta retrospectiva do artista paulistano morto no ano passado e, até agora, desconhecido para muitos.
O desconhecimento deve-se em parte ao apego que Galvez tinha às suas pinturas e esculturas. Ele se recusava a vender e evitava inclusive mostrá-las a muitas pessoas. Essa característica fez com que toda uma série de sua obra recebesse o nome de "fase segredo".
A curadora da mostra, Vera d'Horta, conta que Galvez teria dito a um colecionador interessado em comprar seus quadros: "O senhor vende seus filhos?". "Ele tinha uma relação visceral com as obras", explica ela.
O colecionador Orandi Momesso, que inaugura a Momesso Edições de Arte lançando dois livros sobre Galvez na exposição, conta que demorou para conquistar a confiança do pintor. "Levou seis anos para que ele pudesse me vender o primeiro quadro. Após todo esse tempo indo ao seu ateliê semanalmente ele viu que era por amor à arte que eu queria adquirir suas obras", afirma.
Aluno da Escola de Aprendizes Artífices e do Liceu de Artes e Ofícios na década de 20, Galvez logo emancipou-se do ofício de artesão para tornar-se um artista. Vera d'Horta selecionou para a exposição dois retratos que outros artistas fizeram dele para simbolizar essa transição.
Nas duas telas, vê-se o artista de pé diante do cavalete: "A postura ereta, o enfrentamento da tela, contrasta com a do sujeito curvado sobre uma bancada, copiando um modelo", afirma Vera.
Na mesma sala, há mais de uma dezena de auto-retratos do pintor. Em vários ele aparece de olhos fechados, o que uma citação da Bíblia retirada do verso de uma de suas telas esclarece: "Agora que estou cego é que posso ver". Para ele, não bastavam os olhos, era preciso ver com a alma.
Na série de paisagens exposta em duas salas da Pinacoteca, pode-se acompanhar o trajeto das pinturas em que ele retratava a periferia de São Paulo e as margens do rio Tietê às paisagens com predomínio de árvores, que nos anos 60 tornaram-se expressionistas. "Ele dizia que não precisava mais olhar a natureza, porque a tinha dentro de si", diz Vera.
Como não vendia suas obras, Galvez sobrevivia dos túmulos que esculpia para os cemitérios da Consolação e do Araçá. Junto das esculturas, à entrada da Pinacoteca, haverá quatro grandes banners com reproduções de obras feitas para cemitérios.


Exposição: Raphael Galvez - Pintor, Escultor, Desenhista Onde: Pinacoteca do Estado de SP (pça. da Luz, 2, 1º pavimento, tel. 229-9844) Quando: hoje, 19h30 (para convidados). Ter. a dom.: 10 às 18h. Até 30/10 Quanto: R$ 5 (inteira), R$ 2 (meia). Entrada franca às quintas.



Próximo Texto: Jovens artistas mostram suas visões da paisagem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.