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ARTES PLÁSTICAS
Artista pertence ao segundo período do modernismo brasileiro e integrou o grupo Santa Helena
Pinacoteca desvenda Raphael Galvez
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
No octógono da Pinacoteca,
duas esculturas em gesso são o
prelúdio da exposição de Raphael
Galvez. São as primeiras das mais
de 300 peças selecionadas para esta retrospectiva do artista paulistano morto no ano passado e, até
agora, desconhecido para muitos.
O desconhecimento deve-se em
parte ao apego que Galvez tinha
às suas pinturas e esculturas. Ele
se recusava a vender e evitava inclusive mostrá-las a muitas pessoas. Essa característica fez com
que toda uma série de sua obra recebesse o nome de "fase segredo".
A curadora da mostra, Vera
d'Horta, conta que Galvez teria
dito a um colecionador interessado em comprar seus quadros: "O
senhor vende seus filhos?". "Ele
tinha uma relação visceral com as
obras", explica ela.
O colecionador Orandi Momesso, que inaugura a Momesso Edições de Arte lançando dois livros
sobre Galvez na exposição, conta
que demorou para conquistar a
confiança do pintor. "Levou seis
anos para que ele pudesse me
vender o primeiro quadro. Após
todo esse tempo indo ao seu ateliê
semanalmente ele viu que era por
amor à arte que eu queria adquirir
suas obras", afirma.
Aluno da Escola de Aprendizes
Artífices e do Liceu de Artes e Ofícios na década de 20, Galvez logo
emancipou-se do ofício de artesão para tornar-se um artista. Vera d'Horta selecionou para a exposição dois retratos que outros
artistas fizeram dele para simbolizar essa transição.
Nas duas telas, vê-se o artista de
pé diante do cavalete: "A postura
ereta, o enfrentamento da tela,
contrasta com a do sujeito curvado sobre uma bancada, copiando
um modelo", afirma Vera.
Na mesma sala, há mais de uma
dezena de auto-retratos do pintor. Em vários ele aparece de
olhos fechados, o que uma citação
da Bíblia retirada do verso de uma
de suas telas esclarece: "Agora
que estou cego é que posso ver".
Para ele, não bastavam os olhos,
era preciso ver com a alma.
Na série de paisagens exposta
em duas salas da Pinacoteca, pode-se acompanhar o trajeto das
pinturas em que ele retratava a
periferia de São Paulo e as margens do rio Tietê às paisagens
com predomínio de árvores, que
nos anos 60 tornaram-se expressionistas. "Ele dizia que não precisava mais olhar a natureza, porque a tinha dentro de si", diz Vera.
Como não vendia suas obras,
Galvez sobrevivia dos túmulos
que esculpia para os cemitérios da
Consolação e do Araçá. Junto das
esculturas, à entrada da Pinacoteca, haverá quatro grandes banners com reproduções de obras
feitas para cemitérios.
Exposição: Raphael Galvez - Pintor,
Escultor, Desenhista
Onde: Pinacoteca do Estado de SP (pça.
da Luz, 2, 1º pavimento, tel. 229-9844)
Quando: hoje, 19h30 (para convidados).
Ter. a dom.: 10 às 18h. Até 30/10
Quanto: R$ 5 (inteira), R$ 2 (meia).
Entrada franca às quintas.
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