|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jovens artistas mostram suas visões da paisagem
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
"Outra Paisagem", exposição
que a galeria Millan inaugura hoje, com obras de Eduardo Coimbra, João Modé e Ricardo Basbaum, propõe a discussão atualizada de um gênero de produção
artística que, apesar de permear
toda a história da arte, nem sempre foi analisada como gênero autônomo ou vista com dignidade
temática.
Apesar de as paisagens já estarem presentes em iluminuras e
pinturas medievais, ou como
complemento decorativo em retratos no Renascimento, foi apenas no século 16 que elas passaram a dominar toda a superfície
do quadro, quando, por exemplo,
Albrecht Dürer (1471-1528) decidiu registrar suas impressões de
viagens pela Europa e Giorgione
(1477-1510) resolveu utilizar seu
absoluto domínio da cor e da luz
para conceber paisagens enigmáticas. Antes disso, as paisagens
eram usadas apenas para decorar
objetivos mais nobres ou como
documentação de uma região.
De lá para cá, a paisagem serviu
para mostrar os avanços da ciência em campos como a ótica (como em obras do italiano Canaletto; 1697-1768), demonstrar a impotência do homem diante de algo superior (o alemão Caspar David Friedrich; 1774-1840) ou para
criar uma identidade e uma estética nacional diante de um território inexplorado (o americano
Frederick Church; 1826-1900).
Mesmo na arte contemporânea
a paisagem se apresenta, como na
"land art" e nas instalações. "Na
origem das instalações e da "land
art" existe uma preocupação em
apresentar a natureza em vez de
representá-la. Ambas são construções de uma paisagem, mas
distanciada da natureza", disse o
crítico Rodrigo Naves à Folha.
Os três artistas da mostra na Millan apresentam visões distintas
de paisagem. A escultura "Nove
Viagens, Dois Destinos", de João
Modé, é composta por sete pedras
de cores distintas atravessadas
por um barbante de seda e suspensas no teto. Existem nela referências explícitas à paisagem, como no uso de pedras, mas também remissões ao próprio desenvolvimento da paisagem na história da arte, como o questionamento da linha do horizonte.
"Sempre gostei de pensar meus
trabalhos em relação com o espaço", disse Modé.
Em sua série de fotomontagens
"Asteróides", Eduardo Coimbra
propõe a construção de paisagens
imaginárias e surreais a partir da
revisão de uma paisagem vivida
por ele. São novos corpos celestes
que pairam em um céu azul fragmentado. "Procuro repensar a
unidade estrutural da paisagem",
explica Coimbra.
Ricardo Basbaum apresenta o
trabalho mais conceitual. Sua instalação é uma paisagem mental e
virtual, concebida a partir da citação de pessoas, linhas e espaços,
elementos determinantes para se
usufruir de uma paisagem.
Mostra: Outra Paisagem (instalação de
Ricardo Basbaum, fotos de Eduardo
Coimbra e esculturas de João Modé)
Onde: galeria Millan (r. Mourato Coelho,
94, tel. 852-5722, Pinheiros)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 11h às 14h
Preço das obras: de R$ 1.600 a R$ 2.500
Texto Anterior: Artes Plásticas: Pinacoteca desvenda Raphael Galvez Próximo Texto: "Novíssimos" dos 90 se reúnem Índice
|