São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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Jovens artistas mostram suas visões da paisagem

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

"Outra Paisagem", exposição que a galeria Millan inaugura hoje, com obras de Eduardo Coimbra, João Modé e Ricardo Basbaum, propõe a discussão atualizada de um gênero de produção artística que, apesar de permear toda a história da arte, nem sempre foi analisada como gênero autônomo ou vista com dignidade temática.
Apesar de as paisagens já estarem presentes em iluminuras e pinturas medievais, ou como complemento decorativo em retratos no Renascimento, foi apenas no século 16 que elas passaram a dominar toda a superfície do quadro, quando, por exemplo, Albrecht Dürer (1471-1528) decidiu registrar suas impressões de viagens pela Europa e Giorgione (1477-1510) resolveu utilizar seu absoluto domínio da cor e da luz para conceber paisagens enigmáticas. Antes disso, as paisagens eram usadas apenas para decorar objetivos mais nobres ou como documentação de uma região.
De lá para cá, a paisagem serviu para mostrar os avanços da ciência em campos como a ótica (como em obras do italiano Canaletto; 1697-1768), demonstrar a impotência do homem diante de algo superior (o alemão Caspar David Friedrich; 1774-1840) ou para criar uma identidade e uma estética nacional diante de um território inexplorado (o americano Frederick Church; 1826-1900).
Mesmo na arte contemporânea a paisagem se apresenta, como na "land art" e nas instalações. "Na origem das instalações e da "land art" existe uma preocupação em apresentar a natureza em vez de representá-la. Ambas são construções de uma paisagem, mas distanciada da natureza", disse o crítico Rodrigo Naves à Folha.
Os três artistas da mostra na Millan apresentam visões distintas de paisagem. A escultura "Nove Viagens, Dois Destinos", de João Modé, é composta por sete pedras de cores distintas atravessadas por um barbante de seda e suspensas no teto. Existem nela referências explícitas à paisagem, como no uso de pedras, mas também remissões ao próprio desenvolvimento da paisagem na história da arte, como o questionamento da linha do horizonte. "Sempre gostei de pensar meus trabalhos em relação com o espaço", disse Modé.
Em sua série de fotomontagens "Asteróides", Eduardo Coimbra propõe a construção de paisagens imaginárias e surreais a partir da revisão de uma paisagem vivida por ele. São novos corpos celestes que pairam em um céu azul fragmentado. "Procuro repensar a unidade estrutural da paisagem", explica Coimbra.
Ricardo Basbaum apresenta o trabalho mais conceitual. Sua instalação é uma paisagem mental e virtual, concebida a partir da citação de pessoas, linhas e espaços, elementos determinantes para se usufruir de uma paisagem.


Mostra: Outra Paisagem (instalação de Ricardo Basbaum, fotos de Eduardo Coimbra e esculturas de João Modé) Onde: galeria Millan (r. Mourato Coelho, 94, tel. 852-5722, Pinheiros) Vernissage: hoje, às 20h Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h Preço das obras: de R$ 1.600 a R$ 2.500

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