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"A ÁRVORE DAS PERAS"
Filme se aproxima da universalidade
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
"A Árvore das Peras" é provavelmente o filme iraniano mais próximo à sensibilidade ocidental a chegar até nós. Talvez se possa dizer o
mesmo dos outros sete filmes que
compõem a retrospectiva que a
Mostra dedica a Dariush Mehrjui.
O certo é que "A Árvore" não exige do espectador um esforço inicial de se abrir a costumes, paisagens e modos de ser estranhos.
Bem ao contrário: o protagonista
do filme é um escritor em crise
que, numa tranquila propriedade
de família, tenta reencontrar a inspiração. Em vez disso, é perturbado por um jardineiro que, em tempo integral, tenta recordá-lo de que
uma árvore de peras no pomar não
está dando frutos naquele ano. O
escritor manda o velho plantar batatas algumas vezes. Para este, no
entanto, a coisa é muito grave.
Depois de certo tempo, o escritor
também reconhecerá a gravidade
do fato, já que a árvore em questão
está diretamente ligada a um grande amor de adolescência e a questões que se seguiram (delas parece
derivar sua atual crise criativa).
O filme poderia ser russo ou italiano, colombiano ou americano.
Estamos diante de uma questão
universal. O personagem é um intelectual como o de qualquer lugar.
O que talvez marque o caráter
iraniano do filme é a sensibilidade
para associar objetos distantes: a
árvore estéril corresponde ao próprio escritor (como no Japão, no
Irã se faz uso dessa aproximação
entre a natureza e o humano).
Mehrjui mostra-se um cineasta
bem mais clássico do que outros
que já conhecemos, sobretudo Abbas Kiarostami. Pode ser menos
instigante, mas é mais confortável.
"A Árvore" mantém a tradição
dos filmes iranianos de, a partir de
um fato pequeno, quase insignificante, tentar abarcar o mundo.
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