São Paulo, domingo, 25 de outubro de 1998

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"A ÁRVORE DAS PERAS"

Filme se aproxima da universalidade

INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema

"A Árvore das Peras" é provavelmente o filme iraniano mais próximo à sensibilidade ocidental a chegar até nós. Talvez se possa dizer o mesmo dos outros sete filmes que compõem a retrospectiva que a Mostra dedica a Dariush Mehrjui.
O certo é que "A Árvore" não exige do espectador um esforço inicial de se abrir a costumes, paisagens e modos de ser estranhos.
Bem ao contrário: o protagonista do filme é um escritor em crise que, numa tranquila propriedade de família, tenta reencontrar a inspiração. Em vez disso, é perturbado por um jardineiro que, em tempo integral, tenta recordá-lo de que uma árvore de peras no pomar não está dando frutos naquele ano. O escritor manda o velho plantar batatas algumas vezes. Para este, no entanto, a coisa é muito grave.
Depois de certo tempo, o escritor também reconhecerá a gravidade do fato, já que a árvore em questão está diretamente ligada a um grande amor de adolescência e a questões que se seguiram (delas parece derivar sua atual crise criativa).
O filme poderia ser russo ou italiano, colombiano ou americano. Estamos diante de uma questão universal. O personagem é um intelectual como o de qualquer lugar.
O que talvez marque o caráter iraniano do filme é a sensibilidade para associar objetos distantes: a árvore estéril corresponde ao próprio escritor (como no Japão, no Irã se faz uso dessa aproximação entre a natureza e o humano).
Mehrjui mostra-se um cineasta bem mais clássico do que outros que já conhecemos, sobretudo Abbas Kiarostami. Pode ser menos instigante, mas é mais confortável.
"A Árvore" mantém a tradição dos filmes iranianos de, a partir de um fato pequeno, quase insignificante, tentar abarcar o mundo.



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