São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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MÚSICA

Baterista, que tocou com Yes e King Crimson, se apresenta hoje com o seu grupo Earthworks no DirecTV Music Hall

Bruford esquece progressivo e cai no jazz

Divulgação
O baterista britânico Bill Bruford, que toca hoje, às 21h30, no DirecTV Music Hall com sua banda de jazz Earthworks


EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

A maneira como os produtores do projeto Visa Sounds estão divulgando a apresentação que o baterista britânico Bill Bruford, 54, e sua banda, Earthworks, fazem hoje no DirecTV Music Hall é no mínimo perigosa.
Nos cartazes, os nomes King Crimson e Yes -bandas de rock progressivo pelas quais o músico passou- aparecem garrafais, enquanto a palavra "jazz" -estilo que ele executa agora- vem em letras miúdas.
"Reconheço que a estratégia é perigosa e não os culpo por isso. Mas eu quero pedir um favor a você: escreva e deixe bem claro para as pessoas que elas irão ver um grande show de jazz", disse por telefone o baterista, de sua casa, a 48 quilômetros a sudeste de Londres.
Se reproduzir no palco texturas parecidas com as que registrou em "Footloose and Fancy Free" -CD duplo lançado no exterior neste ano e que registra um concerto na França-, não há muito como questionar a associação que Bruford faz do adjetivo "grande" com o substantivo "show". Em sua edição de setembro, a revista norte-americana "Down Beat", uma das "bíblias" do jazz, concedeu a distinção máxima ao CD: cinco estrelas.
Formalmente, a música de Bruford está associada ao hard bop, estilo de jazz que se faz notar pela aparente simplicidade das melodias associada a muita liberdade rítmica.
Mas a maior contribuição da Earthworks talvez resida na forma, e não no conteúdo. Em vez de repetir o esquema apresentação do tema, sequência de solos, reapresentação do tema e conclusão, a banda se esmerou na arte de improvisar até nas estruturas. "E, mesmo assim, tudo soa firmemente orquestrado e arranjado", disse Bruford.
Apesar de ter passado mais da metade de sua vida atrás de pratos e tambores, Bruford se encarrega de compor a maior parte das melodias que formam o repertório da banda.
"Amo ritmos, mas adoro uma bela melodia. Em algumas ocasiões, minhas músicas vêm de uma base rítmica. Em outras, pequenos motivos melódicos surgem na minha cabeça."
Para mostrar essas composições, o baterista britânico está trazendo ao Brasil três músicos recrutados entre o que de melhor o jazz britânico tem para oferecer nos dias de hoje.
O tecladista Steve Hamilton, 29, já tocou com Freddie Hubbard, Gary Burton e Ray Charles. Já o baixista Mark Hodgson, 31, tem em seu currículo passagens com Randy Brecker, Cedar Walton e Bill Charlap. Por fim, diretamente da banda de Chick Corea, vem o saxofonista Tim Garland.
Todos tocam instrumentos acústicos, o que, na avaliação de Bruford, ajuda a produzir um som "clássico" de jazz. E isso significa anos-luz de distância do rock progressivo e das experiências mais fusion e guitarreiras que Bruford protagonizou no começo de sua carreira solo.
"Eu convido todos os que gostaram de momentos anteriores da minha carreira para que venham ao show. Desafio qualquer um deles a não gostar da Earthworks. Todos deixarão o local com um sorriso nos lábios."
Mesmo dizendo que foi "excitante", o baterista parece não ter muita saudade de seu passado progressivo, época em que, segundo ele próprio, ganhava muito mais dinheiro.
"A vida é assim mesmo. Há muitos exemplos de pessoas que ganham muito e fazem pouco e de outras que recebem pouco pela riqueza do que produzem."


BILL BRUFORD EARTHWORKS
quando: hoje, às 21h30. Onde: DirecTV Music Hall (av. dos Jamaris, 213, Planalto Paulista, região sul, tel. 5643-2500). Quanto: de R$ 55 a R$ 80. Ingressos: Ticketmaster (6846-6000).




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