São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 2002

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"INTIMIDADE"

Exposição no Paço das Artes, montada principalmente com trabalhos em vídeo, caracteriza-se por voyeurismo

Mostra atesta rococó contemporâneo

Divulgação
Cenas de "Schizo", do suíço Christoph Draeger, que mistura cenas de "Psicose", de Alfred Hitchcock, e do remake de Gus van Sant


FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Intimidade" é uma mostra voyeurista. Seleciona nove obras que atestam a sobrevivência da estética rococó na arte contemporânea.
O gosto pela intimidade foi estimulado pela arte cortesã no século 18. A moda dos cômodos aconchegantes recheados de espelhos e retratos inaugurava uma era de teatralização da vida privada. O ver e ser visto, até então prática nos grandes aposentos, passou a permear espaços de sociabilidade cada vez menores.
O Paço instala adequadamente as obras. O espectador é sucessivamente isolado em ambientes restritos que compartimentalizam a visita, apesar de uma interferência sonora entre as peças. Predominam vídeos.
Lucas Bambozzi explora a duração do interesse voyeurista em "Quatro Paredes" (2002). Entra-se num corredor em cuja extremidade está uma janela gradeada, por onde se vê a projeção de uma mulher em casa. Conforme anda o visitante, sensores alternam as cenas: ora o personagem está de calcinha e sutiã, ora veste saia vermelha. Às vezes a moça está absorta numa coreografia enquanto fuma ou bebe, outras afronta o visitante com palavrões para que cesse de observá-la. O jogo fictício prossegue indefinidamente enquanto houver a presença do móvel real.
"Blanche Neige, Lucie" (1997), de Huyge, sofre com a falta de tradução. O documentário retrata a dubladora da "Branca de Neve" de Walt Disney cantando, já velha, uma música celebrizada pela versão original do desenho animado. Contudo legendas em francês apresentam uma entrevista de Lucie sobre direito autoral que poderia estar em português sem nenhuma perda para a obra.
"O Casamento de Discos" (2002) convida para uma relaxante sessão de nostalgia musical. Marepe agrupa nove duplas de LPs sobre uma bancada, que podem ser tocados individualmente ou aos pares em duas vitrolas colaterais. Os discos, gastos de tanto uso, revelam o gosto de um dono ausente.
O registro de personagens patéticos exige do público uma prova de interesse pela vida alheia: caso contrário, o que prenderia a atenção por uma mulher que alterna máscaras de riso e desespero em "Hysteria" (1997), de Sam Taylor-Wood?
A exposição é bem dimensionada. Constrói um painel coerente sobre tema clássico, adaptado para tecnologias atuais. O escurinho das salas e vários pufes espalhados atrairão espectadores interessados na comédia dos comportamentos normais.

Intimidade



   
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Butantã, tel. 3814-4832)
Quando: de ter. a sex., das 11h30 às 18h30; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30. Até 15/12
Quanto: entrada franca



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