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"INTIMIDADE"
Exposição no Paço das Artes, montada principalmente com trabalhos em vídeo, caracteriza-se por voyeurismo
Mostra atesta rococó contemporâneo
Divulgação
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Cenas de "Schizo", do suíço Christoph Draeger, que mistura cenas de "Psicose", de Alfred Hitchcock, e do remake de Gus van Sant |
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Intimidade" é uma mostra voyeurista. Seleciona nove obras que atestam a sobrevivência da estética rococó na arte
contemporânea.
O gosto pela intimidade foi estimulado pela arte cortesã no século 18. A moda dos cômodos aconchegantes recheados de espelhos
e retratos inaugurava uma era de
teatralização da vida privada. O
ver e ser visto, até então prática
nos grandes aposentos, passou a
permear espaços de sociabilidade
cada vez menores.
O Paço instala adequadamente
as obras. O espectador é sucessivamente isolado em ambientes
restritos que compartimentalizam a visita, apesar de uma interferência sonora entre as peças.
Predominam vídeos.
Lucas Bambozzi explora a duração do interesse voyeurista em
"Quatro Paredes" (2002). Entra-se num corredor em cuja extremidade está uma janela gradeada,
por onde se vê a projeção de uma
mulher em casa. Conforme anda
o visitante, sensores alternam as
cenas: ora o personagem está de
calcinha e sutiã, ora veste saia vermelha. Às vezes a moça está absorta numa coreografia enquanto
fuma ou bebe, outras afronta o visitante com palavrões para que
cesse de observá-la. O jogo fictício
prossegue indefinidamente enquanto houver a presença do móvel real.
"Blanche Neige, Lucie" (1997),
de Huyge, sofre com a falta de tradução. O documentário retrata a
dubladora da "Branca de Neve"
de Walt Disney cantando, já velha, uma música celebrizada pela
versão original do desenho animado. Contudo legendas em
francês apresentam uma entrevista de Lucie sobre direito autoral
que poderia estar em português
sem nenhuma perda para a obra.
"O Casamento de Discos"
(2002) convida para uma relaxante sessão de nostalgia musical.
Marepe agrupa nove duplas de
LPs sobre uma bancada, que podem ser tocados individualmente
ou aos pares em duas vitrolas colaterais. Os discos, gastos de tanto
uso, revelam o gosto de um dono
ausente.
O registro de personagens patéticos exige do público uma prova
de interesse pela vida alheia: caso
contrário, o que prenderia a atenção por uma mulher que alterna
máscaras de riso e desespero em
"Hysteria" (1997), de Sam Taylor-Wood?
A exposição é bem dimensionada. Constrói um painel coerente
sobre tema clássico, adaptado para tecnologias atuais. O escurinho
das salas e vários pufes espalhados atrairão espectadores interessados na comédia dos comportamentos normais.
Intimidade
Onde: Paço das Artes (av. da
Universidade, 1, Butantã, tel. 3814-4832)
Quando: de ter. a sex., das 11h30 às
18h30; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30.
Até 15/12
Quanto: entrada franca
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