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CINEMA
Dirigido por Phillip Noyce, longa-metragem "Geração Roubada" trata do choque entre a cultura branca e a aborígene
Australiano realiza uma apropriação étnica
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Austrália, 1931. O protetor-chefe dos aborígenes,
A.O.Neville (Kenneth Branagh),
tutor de todos os membros da etnia, é tomado pela febre de eugenia típica daqueles anos. Para embranquecer as novas gerações, ele
toma a guarda das crianças aborígenes mestiças, querendo que reproduzam com homens brancos.
"Geração Roubada" conta a história (real) de três dessas crianças.
Roubadas da mãe aborígene, elas
vão parar num internato, onde
são obrigadas a esquecer suas origens e os costumes de seu povo.
O filme fala da fuga das crianças
e o que ela representa, segundo o
esquema traçado pela roteirista
Christine Olsen: em sua aventura,
as garotas afirmam a inteligência
e a identidade aborígenes, recuperando, de quebra, um pouco da
identidade nacional australiana
(quando os brancos se revelam
tão solidários para com as foragidas quanto os aborígenes).
Olsen e o diretor, Phillip Noyce,
sabem muito bem o que querem:
agradar a boa consciência multiculturalista, hoje tão em voga no
cinema. "Geração Roubada" é
"worldcinema" no pior sentido:
não a expressão autêntica de uma
etnia, mas uma apropriação. De
certa forma, Olsen e Noyce, apesar das boas intenções, recaem no
erro que denunciam: impõem sua
língua e seu modo de ver as coisas.
Há um excesso de know-how
no esquematismo algo demagógico da dupla. O que, por si só, basta
para dizer que, se a história fosse
filmada por um cineasta amador
aborígene, dificilmente o resultado sairia pior. Ao menos, veríamos um filme mais autêntico.
Geração Roubada
Rabbit-Proof Fence
Produção: Austrália, 2002
Direção: Phillip Noyce
Com: Kenneth Branagh, Everlyn Sampi
Onde: em cartaz no Cinearte 1 e Estação
Unibanco 1
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