São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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Companhia explora humor do gesto

Festejado por seu trabalho em "A Noite dos Palhaços Mudos", ator e diretor Alvaro Assad traz a SP espetáculo de mímica calcado no ilusionismo

Ricardo Gabriel/Divulgação
Marcio Moura, Alvaro Assad e Melissa Teles-Lôbo estão em "No Buraco"

MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
DA REVISTA DA FOLHA

Não há um diálogo sequer. Nem uma única palavra. Mas silêncio não é exatamente o que reina quando os atores do Centro Teatral e Etc e Tal sobem ao palco. Em "No Buraco", montagem que o grupo carioca traz a São Paulo, um burburinho incessante toma conta da cena.
Música, grunhidos, onomatopeias e, sobretudo, risos da plateia costumam pontuar os cinco esquetes de mímica e humor dirigidos por Alvaro Assad. Responsável pela encenação do aclamado "A Noite dos Palhaços Mudos", sucesso da última temporada paulistana, Assad assina com "No Buraco" seu terceiro espetáculo adulto ao lado do Etc e Tal -o primeiro deles completamente desprovido de falas.
O mote para a peça surgiu em 2004, quando a trupe apresentou um esboço desse trabalho no Festival da Dinamarca. Desde então, os cômicos percorreram muitas cidades brasileiras e fizeram muitos testes e adaptações até alcançarem a configuração atual, que faz temporada em São Paulo e no Rio, simultaneamente.
"Foi uma extensa pesquisa, em que observamos várias situações nas ruas do Rio de Janeiro. Experimentamos mais de 12 histórias até chegar a essas cinco que ficaram", diz Assad. "O importante era alcançar aquelas que funcionassem melhor atrás do biombo." O biombo ao qual o diretor se refere é uma meia parede, com um metro de altura, que recobre toda a frente do palco e cria um "imenso buraco", deixando entrever apenas uma parte das ações dos três intérpretes (Marcio Moura, Melissa Teles-Lôbo e o próprio Alvaro Assad, que também atua).
É assim que o espectador tem a impressão de ver corpos voando, atores que flutuam e uma série de situações marcadas pelo nonsense e por uma pitada de teatro do absurdo.

Máquina de ilusão
"O cerne do espetáculo é a mímica ilusória", comenta o diretor que salpica as cenas com referências das histórias em quadrinhos, do cinema e do circo. "O público não ri apenas do que vê, mas, principalmente, daquilo que seu cérebro conclui, do que ele imagina."
Em sua dramaturgia, "No Buraco" retoma a tradição das antigas pantomimas: vale-se do gesto para narrar enredos simples, permeados de comicidade e capazes de atingir a todas as plateias.
Assad, que é discípulo de Luís de Lima - ator português que introduziu a técnica no país- acredita que os argumentos de suas histórias não diferem muito daqueles que guiavam as obras de grandes nomes do humor físico, como Marcel Marceau e Buster Keaton.
"Aquele gestual do pierrô talvez tenha ficado datado. Mas os temas das pantomimas não mudaram", defende o diretor. "O homem hoje tem o Twitter, mas as relações humanas permanecem as mesmas, pautadas pelo desejo, pelos conflitos. Pegamos essa pantomima clássica e a travestimos com uma roupagem contemporânea."


NO BURACO

Quando: sex., sáb. e dom., às 19h30
Onde: Sesc Av. Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/xx/11/ 3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação: 14 anos




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