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Crítica/ "Simplesmente Complicado"
Feminismo disfarça visão preconceituosa
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
A americana Nancy Meyers ("Alguém Tem que
Ceder", 2003) é menos
uma cineasta do que uma cientista demográfica. Como certas
revistas femininas, ela faz filmes cuidadosamente planejados para entreter uma parcela
da população: mulheres maduras bem-sucedidas na profissão, mas infelizes no amor.
Mudam as atrizes, permanece a moral: mulheres acima de
uma certa idade -seja 30, 40
ou 50 anos- são perfeitamente
desejáveis. A variação de "Simplesmente Complicado" é que
o desejo vem de um lugar insuspeito: um caso entre a protagonista e seu ex-marido.
Jane (Meryl Streep) é uma
dona de restaurante divorciada, com três filhos crescidos.
Seu ex, Jake (Alec Baldwin), a
trocou por uma mulher mais
jovem. Na viagem de formatura
de um de seus filhos, eles descobrem que ainda se sentem
atraídos um pelo outro e iniciam um tórrido "affair".
Ao mesmo tempo, Adam
(Steve Martin), o arquiteto que
vai reformar a casa de Jane, se
apaixona por ela, e a história
evolui para um triângulo.
Embora Meyers saiba se
aproveitar do talento cômico
dos atores, "Simplesmente
Complicado" tem um problema recorrente em seus filmes:
por trás da moral aparentemente feminista, podem ser
encontrados traços subliminares de sexismo. As personagens
só se realizam plenamente com
um parceiro ao lado.
Questões amorosas à parte,
as personagens criadas por Meyers vivem numa espécie de idílio, em casas deslumbrantes,
com filhos perfeitos e trabalhos
prazerosos. Assim, os filmes de
Meyers resultam em uma estranha mistura de livro de autoajuda para mulheres com revista de decoração.
SIMPLESMENTE COMPLICADO
Diretor: Nancy Meyers
Produção: EUA, 2009
Com: Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin
Onde: Kinoplex Itaim, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
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