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"SÃO PAULO, 450 ANOS"
Mostra é testamento visual da cidade
Divulgação
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"Avenida São João em Direção à Praça Antonio Prado, com Edifício Martinelli ao Fundo", 1937, de Claude Lévi-Strauss |
WALNICE NOGUEIRA GALVÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se ainda não foi à exposição
dos 450 anos da cidade, organizada pelo Instituto Moreira Salles, não perca: é uma maravilha.
Das paredes da galeria da Fiesp na
av. Paulista pendem os documentos visuais de São Paulo. Os primeiros, naturalmente, são anteriores à invenção da fotografia:
desenhos a lápis, a bico de pena e
aquarelas, flagrando os toscos inícios daquela que no passado fora
a aldeia piratiningana. Os de
Charles Landseer, ou então os de
William John Burchell, dão notícia de uma povoação ainda meio
mameluca.
Depois de inventada a fotografia, tornam-se outras as possibilidades de registro. É assim que tomamos conhecimento das três ou
quatro cidades que não se superpõem porque foram arrasadas.
A primeira delas é perfeitamente urbanizada, com calçadas e arruados, embora irregulares, com
estilo colonial uniforme: poderia
passar por uma das velhas cidades
mineiras, ou Paraty, Olinda, partes de Salvador etc. Dessa não sobrou nada. Depois vem a cidade
do surto do café do Oeste, quando
a prosperidade criou uma malha
urbana quadriculada, arborizada,
de sobrados, e os beirais coloniais
desapareceram. Essa também sumiu, quando a verticalização empunhou as rédeas do processo.
Está tudo ali, belamente documentado na exposição.
A digitalização possibilita milagres. Os desenhos e as fotos, aumentados, não perdem a finura
do grão nem a nitidez. E foi viável
fazer, como se fez, coisas inimagináveis, como emendar diferentes
fotos de Militão Augusto de Azevedo com a intenção de constituir
um panorama ampliado, postando o espectador no centro de um
pequeno largo, tendo a paisagem
do casario ao redor.
Mas tem mais. O cineasta e fotógrafo Thomaz Farkas parece
guardar um baú cheio de preciosidades, de onde às vezes extrai alguma, embasbacando todo mundo. Em 1954, no 4º Centenário de
São Paulo, filmou sem som um
show da Velha Guarda, criada e liderada por Almirante. Meio século depois, vêem-se três minutos
desse filme agora não mais mudos.
Convocaram José Ramos Tinhorão, fonoaudiólogos e leitores
de lábios, e mais a Reserva Técnica da casa, para restaurar o som.
Quem quiser ver e ouvir Pixinguinha, a flauta de Benedito Lacerda,
a perícia de João da Baiana no
prato-e-faca, Donga com sua indefectível gravata "lavallière", o
próprio Almirante e muitos mais,
todos de terno, impecáveis em
sua elegância, verdadeiros dândis
que eram, tocando, cantando e
tracejando firulas "no pé", é só
dar um pulo na exposição.
Para nosso gáudio, avisa-se que
o restante do filme está sendo preparado da mesma maneira para
ser futuramente apresentado ao
público, na íntegra.
Walnice Nogueira Galvão é crítica literária e professora titular de literatura da
USP
SÃO PAULO, 450 ANOS. Onde: Centro
Cultural Fiesp - galeria de arte do Sesi (av.
Paulista, 1.313, tel. 3146-7406). Quando:
de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., das
10h às 19h; até 27/6. Grátis.
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