São Paulo, Quarta-feira, 27 de Outubro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Artista e produtor cultural inaugura mostra individual em que apresenta esculturas em madeira
Ribenboim articula sua nova pele

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Ricardo Ribenboim abandona, temporariamente, seu papel de produtor cultural (ele é diretor do Itaú Cultural) e solta hoje seus bichos no chão e nas paredes da galeria Nara Roesler, na mostra "Troca de Pele". Eles chegam já sob o signo da transformação, como diz o título da exposição, explicitando assim o hibridismo que caracteriza os trabalhos.
São esculturas em madeira que, apesar da dureza do material, são articuláveis e maleáveis.
Curiosamente, apesar de ter formação em computação e design gráficos, Ribenboim foi buscar nas formas orgânicas da natureza a origem dessas novas vidas. "Existe uma relação entre o elemento orgânico e o gráfico. Os princípios construtivos da produção gráfica estão muito ligados aos desenhos da natureza", disse.
Suas esculturas são compostas por formas que se repetem e produzem sons e movimentos a partir da interação com o público. Não satisfeito, Ribenboim ainda criou imagens virtuais que reproduzem as formas de seus bichos e que serão projetadas em movimento sobre eles.
Esse seu mundo novo é preenchido pelos movimentos das centopéias, articulações do rabo de um tatu, troca de pele de uma serpente, jogo amoroso entre dois anelídeos (como as minhocas).
"A idéia foi dar a esses peças uma sensualidade a partir das ondulações, acasalamentos e enovelamentos. Eles são bichos e são trepantes", disse o artista, citando assim duas séries de obras de Lygia Clark (1920-1988).
A produção de Ribenboim lida com questões sexuais, mas, assim como na produção de Clark, em que a sexualidade é latente, aqui não existe masculino ou feminino, apenas corpos semelhantes.
Não se trata porém de questões homoeróticas. Ribenboim faz questão de dizer que tentou fugir de discussões conceituais da arte contemporânea e ater-se ao prazer que a forma dos trabalhos proporcionam. "Por serem orgânicos, eles remetem a sensações de prazer e de repulsa, mas o que prevalece é o prazer da forma, o prazer construtivo do trabalho".
O título da mostra também é sintomático de sua produção ao trazer sua nova pele e também referir-se à sua tentativa de criar novas formas depois de 25 anos (de 1974 a 1999) tentando destruir, com sua produção, uma forma sedimentada na cultura de massa: a garrafa de Coca-Cola.



Mostra: Troca de Pele (esculturas de Ricardo Ribenboim) Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344) Vernissage: hoje, às 20h Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 15h Quanto: de R$ 2.000 a R$ 25 mil


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