São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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MÚSICA

Ópera de Jules Massenet tem Rosana Lamosa no papel-título e é apresentada no teatro Alfa até o dia 7 de dezembro

Nova "Manon" desfila pela alta-costura

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O teatro Alfa apresenta a partir de hoje, em curta temporada de seis récitas, a ópera "Manon", de Jules Massenet (1842-1912), com direção cênica de Aidan Lang e regência musical de Luis Fernando Malheiro.
A mesma produção, estreada no ano passado no 5º Festival Amazonas de Ópera, traz pelo menos três grandes atrativos.
Há a sutileza da interpretação orquestral. Malheiro, hoje um dos grandes da ópera no Brasil, dirige a Amazonas Filarmônica, uma orquestra adulta para o repertório, como o demonstrou este ano com uma surpreendente "Valquíria", de Wagner.
Só 16 de seus 69 músicos são brasileiros. Os demais trouxeram do Leste Europeu um refinamento nas cores e uma transparência no fraseado que por aqui apenas a Osesp pode oferecer.
Os cantores são o segundo atrativo. Foram convidadas vozes brasileiras, mas todas elas de primeiríssimo escalão em seus respectivos registros. O papel título é cantado pela soprano Rosana Lamosa. Des Grieux, seu primeiro amante, é interpretado pelo tenor Fernando Portari. Lescaut, parente de Manon e um dos fios condutores do enredo, traz o barítono Paulo Szot.
É um elenco homogêneo, com expressividade dramática e imensa beleza de timbre. Vozes notáveis aparecem nos papéis secundários, como a mezzo-soprano Denise de Freitas (a cortesã Rosette) e o baixo José Gallisa (o Conde Des Grieux).
O terceiro atrativo está na concepção cênica. O inglês Aidan Lang, nessa sua sexta montagem no Brasil, concebe "Manon" com o detalhamento minucioso de uma toalha de rendas. O respeito ortodoxo ao libreto de Henri Meilhac e Philippe Gille se compatibiliza com achados refinados, como a inclusão simultânea, no palco, de manequins com os sucessivos vestidos -que remetem a estados de espíritos contraditórios- que definem a cronologia complicada de Manon.
Massenet estreou a mais famosa de suas 26 óperas em 1884, ou 28 anos depois que Auber e nove anos antes que Puccini levassem à cena lírica o mesmo romance -"As Aventuras do Cavalheiro Des Grieux e Manon Lescaut"- do abade Prévost.
O compositor foi uma espécie de chefe oficioso da burocracia musical francesa nas primeiras décadas da 3ª República. Conservador em sua linguagem, mas de achados melódicos singulares, ele deu ao personagem de Manon uma ambiguidade que Auber e Puccini, por concessões à esteriotipia moral do público, não tiveram a gentileza de construir.
A ação se passa a partir de 1721. Manon chega a Paris aos 16 anos para completar sua educação num convento. Entrega-se com intensidade a sua primeira e única paixão. Mas a troca com certa perfídia por homens dos quais extrai jóias, riquezas e uma concepção frívola da vida. É a engrenagem existencial das cortesãs.
Auxiliada pela música e pelo libreto, a montagem não perde em momento algum o seu ritmo. A primeira cena do terceiro ato transforma-se, por exemplo, numa bem-humorada metáfora. Trata-se do "Cours-la-Reine", comemoração pública do aniversário da rainha, supostamente a mulher de Luís 14.
Já que a festa encenada é pretexto para que nobres e burgueses desfilem seus grandes vícios e suas pequenas virtudes, no meio do cenário um plano mais elevado pode ser interpretado como uma passarela da alta-costura. É aliás sobre ela que Lamosa interpreta -e como o faz bem!-, em duo com o Coral Paulistano, a peça mais conhecida da ópera, "Profitons-nous de la Jeunesse".


MANON. De: Jules Massenet. Direção cênica: Aidan Lang. Direção musical: Luis Fernando Malheiro. Quando: hoje e nos dias 29 de novembro, 3, 5 e 7 de dezembro, às 20h30; domingo, às 17h. Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000). Quanto: de R$ 65 a R$ 180. Patrocinador: Embraer.


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