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MÚSICA
Ópera de Jules Massenet tem Rosana Lamosa no papel-título e é apresentada no teatro Alfa até o dia 7 de dezembro
Nova "Manon" desfila pela alta-costura
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O teatro Alfa apresenta a partir
de hoje, em curta temporada de
seis récitas, a ópera "Manon", de
Jules Massenet (1842-1912), com
direção cênica de Aidan Lang e regência musical de Luis Fernando
Malheiro.
A mesma produção, estreada
no ano passado no 5º Festival
Amazonas de Ópera, traz pelo
menos três grandes atrativos.
Há a sutileza da interpretação
orquestral. Malheiro, hoje um dos
grandes da ópera no Brasil, dirige
a Amazonas Filarmônica, uma
orquestra adulta para o repertório, como o demonstrou este ano
com uma surpreendente "Valquíria", de Wagner.
Só 16 de seus 69 músicos são
brasileiros. Os demais trouxeram
do Leste Europeu um refinamento nas cores e uma transparência
no fraseado que por aqui apenas a
Osesp pode oferecer.
Os cantores são o segundo atrativo. Foram convidadas vozes
brasileiras, mas todas elas de primeiríssimo escalão em seus respectivos registros. O papel título é
cantado pela soprano Rosana Lamosa. Des Grieux, seu primeiro
amante, é interpretado pelo tenor
Fernando Portari. Lescaut, parente de Manon e um dos fios condutores do enredo, traz o barítono
Paulo Szot.
É um elenco homogêneo, com
expressividade dramática e imensa beleza de timbre. Vozes notáveis aparecem nos papéis secundários, como a mezzo-soprano
Denise de Freitas (a cortesã Rosette) e o baixo José Gallisa (o Conde
Des Grieux).
O terceiro atrativo está na concepção cênica. O inglês Aidan
Lang, nessa sua sexta montagem
no Brasil, concebe "Manon" com
o detalhamento minucioso de
uma toalha de rendas. O respeito
ortodoxo ao libreto de Henri Meilhac e Philippe Gille se compatibiliza com achados refinados, como
a inclusão simultânea, no palco,
de manequins com os sucessivos
vestidos -que remetem a estados de espíritos contraditórios-
que definem a cronologia complicada de Manon.
Massenet estreou a mais famosa
de suas 26 óperas em 1884, ou 28
anos depois que Auber e nove
anos antes que Puccini levassem à
cena lírica o mesmo romance
-"As Aventuras do Cavalheiro
Des Grieux e Manon Lescaut"-
do abade Prévost.
O compositor foi uma espécie
de chefe oficioso da burocracia
musical francesa nas primeiras
décadas da 3ª República. Conservador em sua linguagem, mas de
achados melódicos singulares, ele
deu ao personagem de Manon
uma ambiguidade que Auber e
Puccini, por concessões à esteriotipia moral do público, não tiveram a gentileza de construir.
A ação se passa a partir de 1721.
Manon chega a Paris aos 16 anos
para completar sua educação
num convento. Entrega-se com
intensidade a sua primeira e única
paixão. Mas a troca com certa
perfídia por homens dos quais extrai jóias, riquezas e uma concepção frívola da vida. É a engrenagem existencial das cortesãs.
Auxiliada pela música e pelo libreto, a montagem não perde em
momento algum o seu ritmo. A
primeira cena do terceiro ato
transforma-se, por exemplo, numa bem-humorada metáfora.
Trata-se do "Cours-la-Reine", comemoração pública do aniversário da rainha, supostamente a
mulher de Luís 14.
Já que a festa encenada é pretexto para que nobres e burgueses
desfilem seus grandes vícios e
suas pequenas virtudes, no meio
do cenário um plano mais elevado pode ser interpretado como
uma passarela da alta-costura. É
aliás sobre ela que Lamosa interpreta -e como o faz bem!-, em
duo com o Coral Paulistano, a peça mais conhecida da ópera, "Profitons-nous de la Jeunesse".
MANON. De: Jules Massenet. Direção
cênica: Aidan Lang. Direção musical: Luis
Fernando Malheiro. Quando: hoje e nos
dias 29 de novembro, 3, 5 e 7 de
dezembro, às 20h30; domingo, às 17h.
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000).
Quanto: de R$ 65 a R$ 180. Patrocinador:
Embraer.
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