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Ópera foi pouco encenada no Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
A idéia de montar "Manon"
partiu de sugestão da soprano Rosana Lamosa ao maestro Luis Fernando Malheiro. Ela já estudara o
papel durante seu aprendizado, e
ele, interessado por peças pouco
interpretadas do repertório,
achou que a ópera de Massenet,
ao que consta não montada no
Brasil há cerca de 40 anos, preenchia o requisito.
"Manon", diz ele, poderia ser
bem mais conhecida por ter sido
um dos papéis capilares na carreira de Bidu Sayão. Só com a orquestra e com o elenco do Met de
Nova York ela fez duas gravações.
Mas há o antigo obstáculo, nota
Rosana Lamosa, que peças líricas
francesas enfrentam em São Paulo (onde o público no passado se
habituou quase que exclusivamente com o repertório italiano).
O Teatro Municipal do Rio registra uma quantidade maior de encenações da obra de Massenet.
Como por exemplo "Thaïs",
acrescenta Malheiro.
Há em "Manon" dificuldades
de regência que o maestro define
da seguinte forma: na literatura
francesa, é uma das peças de
maior hibridismo, saltando por
diferentes estilos. Pela terminologia parisiense, trata-se de uma
"ópera cômica", pouco importa
seu grau de dramaticidade ou o
fato de a heroína, tanto quanto a
Tosca (Puccini) ou a Gilda (Verdi) morrerem no último ato. Para
se tornar "ópera séria" seriam
inadmissíveis, como ocorre com
"Manon", recitativos falados.
Foi em razão dessa desimportância que apenas 90 anos depois
de sua estréia, justamente na Opéra Comique, que essa obra foi encenada na Ópera de Paris.
O maestro diz ter trabalhado
com o diretor cênico Aidan Lang
numa "Sonâmbula", de Bellini,
no ano passado, no Rio. Foi uma
montagem de certa dificuldade,
sobretudo porque o enredo é tão
simples que sua leitura literal torna a ópera teatralmente enfadonha. "Acho que podemos inventar a histeria suíça", disse Lang na
época, referindo-se à nacionalidade da principal protagonista.
Ele e Malheiro discutem agora a
encenação de óperas de Janacek e
Britten, autores que os brasileiros
apenas conhecem por suas peças
sinfônicas e peças concertantes.
O personagem de Manon é dificílimo, diz Lamosa. Ele está permanentemente em cena, exigindo
por longas passagens o uso de tessitura muito grave. As sopranos
normalmente poupam a voz no
primeiro e no segundo ato, para
darem de tudo no terceiro. O
quarto e o quinto são mais curtos,
menos cansativos.
Malheiro deixou em julho último uma de suas duas atividades
fixas, a de diretor musical do Municipal do Rio. Está agora apenas
com a orquestra de Manaus. Com
ela, depois da "Walquíria", de
Wagner, encenada este ano, pretende montar a ópera seguinte da
tetralogia wagneriana, "Siegfried", um "Don Carlo", de Verdi,
e "Magdalena", composta por Villa-Lobos sob a forma de musical.
(JBN)
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