São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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Ópera foi pouco encenada no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de montar "Manon" partiu de sugestão da soprano Rosana Lamosa ao maestro Luis Fernando Malheiro. Ela já estudara o papel durante seu aprendizado, e ele, interessado por peças pouco interpretadas do repertório, achou que a ópera de Massenet, ao que consta não montada no Brasil há cerca de 40 anos, preenchia o requisito.
"Manon", diz ele, poderia ser bem mais conhecida por ter sido um dos papéis capilares na carreira de Bidu Sayão. Só com a orquestra e com o elenco do Met de Nova York ela fez duas gravações.
Mas há o antigo obstáculo, nota Rosana Lamosa, que peças líricas francesas enfrentam em São Paulo (onde o público no passado se habituou quase que exclusivamente com o repertório italiano). O Teatro Municipal do Rio registra uma quantidade maior de encenações da obra de Massenet. Como por exemplo "Thaïs", acrescenta Malheiro.
Há em "Manon" dificuldades de regência que o maestro define da seguinte forma: na literatura francesa, é uma das peças de maior hibridismo, saltando por diferentes estilos. Pela terminologia parisiense, trata-se de uma "ópera cômica", pouco importa seu grau de dramaticidade ou o fato de a heroína, tanto quanto a Tosca (Puccini) ou a Gilda (Verdi) morrerem no último ato. Para se tornar "ópera séria" seriam inadmissíveis, como ocorre com "Manon", recitativos falados.
Foi em razão dessa desimportância que apenas 90 anos depois de sua estréia, justamente na Opéra Comique, que essa obra foi encenada na Ópera de Paris.
O maestro diz ter trabalhado com o diretor cênico Aidan Lang numa "Sonâmbula", de Bellini, no ano passado, no Rio. Foi uma montagem de certa dificuldade, sobretudo porque o enredo é tão simples que sua leitura literal torna a ópera teatralmente enfadonha. "Acho que podemos inventar a histeria suíça", disse Lang na época, referindo-se à nacionalidade da principal protagonista.
Ele e Malheiro discutem agora a encenação de óperas de Janacek e Britten, autores que os brasileiros apenas conhecem por suas peças sinfônicas e peças concertantes.
O personagem de Manon é dificílimo, diz Lamosa. Ele está permanentemente em cena, exigindo por longas passagens o uso de tessitura muito grave. As sopranos normalmente poupam a voz no primeiro e no segundo ato, para darem de tudo no terceiro. O quarto e o quinto são mais curtos, menos cansativos.
Malheiro deixou em julho último uma de suas duas atividades fixas, a de diretor musical do Municipal do Rio. Está agora apenas com a orquestra de Manaus. Com ela, depois da "Walquíria", de Wagner, encenada este ano, pretende montar a ópera seguinte da tetralogia wagneriana, "Siegfried", um "Don Carlo", de Verdi, e "Magdalena", composta por Villa-Lobos sob a forma de musical. (JBN)


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