São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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ARQUITETURA

Os libaneses Tony Chakar e Naji Assi participam do projeto "São Paulo S.A.", que encerra hoje ciclo de debates

"Caos urbano é fruto da megalomania"

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para que uma metrópole consiga vencer seus problemas, é necessário, de início, combater a "megalomania dos arquitetos". Assim pensam os libaneses Tony Chakar e Naji Assi, que na última segunda-feira participaram da série de debates promovido pelo projeto "São Paulo S.A.", cujo primeiro módulo se encerra hoje.
Com curadoria da francesa Catherine David, o "São Paulo S.A." procura promover uma série de eventos e debates (com especialistas e convidados brasileiros e estrangeiros) sobre questões urbanas e artísticas -eventos que devem continuar no próximo ano.
Os arquitetos Chakar e Assi (34 e 33 anos, respectivamente) têm um trabalho sobre Rouwaysset, uma região na periferia da cidade de Beirute, no Líbano, ocupada de maneira desordenada pela população mais pobre. Uma desordenação que significa construir onde havia antes uma rua, uma passagem, em um cruzamento de espaços públicos e privados.
"Fazemos parte desses arquitetos de Beirute que pensam ser a questão urbana um domínio que pertence, na verdade, a múltiplos setores", diz Naji. "Em lugares como Rouwaysset", ele continua, "há uma espécie de autogestão que nos coloca uma questão: a atitude dos arquitetos, dos urbanistas, dos sociólogos. Os problemas de uma cidade não são uma fatalidade, e os que encontram as soluções não atuam, sempre, na mesma esfera."
As respostas para as questões urbanas, acredita Chakar, passam necessariamente pela relação que arquitetura tem com sua história, e pelo papel que um arquiteto imagina ocupar na sociedade na qual vive e interfere.
"A megalomania dos arquitetos se funda em um contrato social que nunca foi assinado", diz ele. "Um arquiteto, perto de uma maquete, parece Jesus, indicando o caminho. Por isso são pessoas cada vez menos populares."
Mas, de toda maneira, são também profissionais de quem se espera uma contribuição para a resolução dos problemas dos grandes centros urbanos. E, muitas vezes, a grande questão é saber quanto das soluções propostas pertencem apenas ao território da utopia; o que terminaria agravando a atmosfera de caos.
"Apresentar uma "solução", colocar o problema dessa maneira, é mascarar a complexidade da cidade", diz Chakar, que prega a necessidade de um renovado diálogo entre arquitetos, poderes públicos e habitantes.

Programação
Hoje, a partir das 18h, na Biblioteca Mario de Andrade (r. da Consolação, 94, centro), o "São Paulo S.A." encerra seu ciclo de debates com os temas "Resistência e Criação no Contexto Contemporâneo" e "Ressonâncias". A entrada é gratuita (informações e inscrições pelo tel. 9294-4876).


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