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É TUDO VERDADE
Debate no Itaú Cultural serve como ponto de partida para análise do documentarista e crítico franco-belga
Bernardet ganha retrospectiva documental
Divulgação
![](../images/i2803200604.jpg) |
Cena de "Crítica em Movimento", documentário de Kiko Mollica que faz parte de panorama que homenageia Jean-Claude Bernardet |
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O s 70 anos de Jean-Claude
Georges René Bernardet são
celebrados pela 11ª edição do É
Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários com
um ciclo de sete filmes (cinco dirigidos ou co-dirigidos por ele, outros dois sobre ele) e com a primeira mesa de debates da 6ª Conferência Internacional do Documentário, que começa hoje no
Itaú Cultural.
Cidadão francês nascido no sul
da Bélgica, Bernardet vive no Brasil desde 1949 e se naturalizou em
1964. Sua notável contribuição ao
audiovisual brasileiro foi construída como crítico, ensaísta, professor da Universidade de Brasília
e da Universidade de São Paulo
(USP), ator, roteirista, produtor e
diretor. Diversas gerações de cineastas e pesquisadores aprenderam a dialogar com sua obra como referência obrigatória.
A reflexão sobre o documentário exerce papel importante ao
longo de toda a sua trajetória, mas
se encorpa decisivamente em "Cineastas e Imagens do Povo", publicado pela Brasiliense em 1985,
antes que o autor tivesse visto
"Cabra Marcado para Morrer"
(1984), de Eduardo Coutinho,
considerado por ele um "divisor
de águas". Ao mesmo tempo em
que o filme confirmaria idéias do
livro, o livro permitiria "compreender melhor o "Cabra'".
Coutinho estará hoje no debate
em homenagem a Bernardet, às
14h30, que reunirá Amir Labaki,
diretor do festival e articulista da
Folha, o artista multimídia Kiko
Goifman ("33") e o professor e cineasta Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura e
colega de Bernardet durante muitos anos no departamento de cinema, rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da USP.
"Cineastas e Imagens do Povo"
analisa documentários brasileiros
realizados entre 1960 e 1980. A
preocupação não é a de fazer um
panorama histórico, mas estudar
a "crise" que nasce do questionamento do "modelo sociológico",
cujo apogeu ocorreu em 1964-65.
Clássicos como "Viramundo"
(1965), "Subterrâneos do Futebol" (1965), "Maioria Absoluta"
(1966), "A Opinião Pública"
(1966) e "Greve" (1979) - que teve cenas utilizadas em "Peões"
(2004), de Coutinho - são analisados para examinar, entre outros
aspectos, qual seria a fronteira entre o "modelo sociológico" e o que
lhe sucede, além do que assinalaria tal ruptura na linguagem.
"Acredito que três elementos
principais", responde Bernardet.
"Deixar de acreditar no cinema
documentário como reprodução
do real, tomá-lo como discurso e
exacerbá-lo enquanto tal; quebrar
o fluxo da montagem audiovisual
e desenvolver uma linguagem baseada no fragmento e na justaposição; opor-se à univocidade e trabalhar sobre a ambigüidade."
O ciclo de filmes que integra a
homenagem se presta também à
apresentação da obra do ensaísta,
com a exibição de "Território Crítico" (2001), de Ricardo Miranda,
e "Crítica em Movimento" (2004),
de Kiko Mollica. Conhecida a teoria, pode-se conferir a prática - e
se verá então que, na obra de Bernardet, uma e outra se apresentam como campos complementares e intercambiáveis.
A ponte se faz mais evidente,
entre os documentários realizados por Bernardet, em "São Paulo, Sinfonia Cacofonia" (1994) -
releitura de imagens da cidade no
cinema tendo como interlocutor
"São Paulo, Sinfonia de uma Metrópole" (1929), de Adalberto Kemeny e Rodolfo Lustig, e a matriz
inspiradora deste, "Berlim, Sinfonia de uma Metrópole" (1927), de
Walter Ruttmann - e em "Sobre
Anos 60" (1999), outro esforço de
montagem que olha para o Brasil
do período a partir de perspectiva
muito particular.
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