São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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CRÍTICA

Diretora humaniza seqüestradora de avião

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando a diretora sueco-palestina Lina Makboul era adolescente, um de seus ídolos era Leila Khaled. Em 1968, Leila, uma palestina nascida em Haifa quatro anos antes da criação do Estado de Israel, seqüestrou um avião que rumava para Milão supostamente com Yitzak Rabin, então embaixador israelense nos EUA, a bordo e o levou até Damasco com a ajuda de um cúmplice. Ninguém foi ferido, mas o mundo, assustado, pela primeira vez voltou os olhos para a questão palestina.
Então com 24 anos, extremamente bonita e armada com uma metralhadora que nunca chegou a disparar, Leila virou uma espécie de ícone árabe e uma terrorista procurada. Presa brevemente pela polícia síria, foi logo libertada e desapareceu para realizar uma série de cirurgias plásticas que transformariam seu rosto. A idéia era ficar irreconhecível para uma próxima ação de seu grupo, a Frente Popular para a Libertação da Palestina, dois anos depois.
Desta vez, o alvo foi um avião da israelense El Al que rumava para Nova York. Mas Leila não teve o mesmo sucesso. Foi dominada e acabou presa em Londres, sendo solta em uma negociação inédita do governo britânico com a FPLP, que tinha sob seu poder outros três aviões cheios de passageiros.
Passados 35 anos, a dona-de-casa que Makboul encontra vivendo em Amã (Jordânia), tema do filme "Leila Khaled, Hijacker", pouco lembra a jovem cuja figura estampa pôsteres até hoje nos territórios ocupados. Sua determinação permanece firme: ela já não luta mais com armas, mas defende que todo meio é válido para conquistar a causa palestina -desde que nenhum civil seja morto em lugar nenhum.
Makboul tem uma óbvia simpatia por sua personagem e a humaniza de forma quase caricata, filmando-a em cenas cotidianas como servir o jantar para a família ou envergar um pijama de ursinhos. No momento mais pungente, a diretora entrega para sua interlocutora -proibida de pisar em Haifa- um ladrilho da casa onde viveu seus primeiros quatro anos de vida, fazendo-a sucumbir a um raro choro. Nem por isso Makboul deixa de confrontar sua antiga heroína com questões delicadas nem de defender que já não crê que a violência seja um meio aceitável ou útil à sua causa. (LC)


Leila Khaled, Hijacker   
Quando:
hoje, às 20h, no MIS (av. Europa, 158, tel. 3062-9197)
Quanto: entrada franca



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