São Paulo, sábado, 28 de março de 1998 |
Próximo Texto | Índice SHOW Crítica "Madeira" confirma talento de Antonio Nóbrega
LUÍS NASSIF do Conselho Editorial Se você sente que o amor próprio nacional está em baixa, que a globalização traz dúvidas sobre a identidade cultural do país, se você julga que o Brasil carece de talento para enfrentar o mundo, tome Antonio Nóbrega. Aproveite e leve a família. É um show inesquecível de brasilidade. Não apenas o folclore na sua forma bruta, mas uma soma de informação, sensibilidade e multitalento que faz de Nóbrega e sua troupe um fenômeno único -provavelmente o mais importante representante da cultura popular brasileira na atualidade. Há vários Nóbregas no show, o contador de "causos' e o cantador nordestino, o cantor particularíssimo, com sua entonação que encantou crianças e adultos no início dos anos 80, nos discos infantis do selo Eldorado. Há o spalla que tira do violino sons vigorosos e límpidos, denotando a formação erudita de quem já integrou o Quinteto Armorial nos anos 80. Além do violino, domina à perfeição todos os instrumentos de corda em quarta, da rebeca ao bandolim, de onde tira sons que só os muito íntimos e talentosos conseguem tirar. Há o compositor maiúsculo, com suas músicas que são pérolas de simplicidade e de reconstituição elaborada de temas folclóricos. Cenicamente, é um gigante. De compleição miúda -a exemplo de outro monstro do palco, Edson Cordeiro-, quando se movimenta, domina o espaço. Circula pelo palco, atulhado de músicos, objetos e cenários, com o equilíbrio e a naturalidade de quem passeia por um parque. Seu jogo de expressões está à altura dos maiores mímicos. Consegue assumir a forma de um personagem de quadrinhos ou do cinema mudo, um Carlitos nordestino, caricato, colorido e alegre. E é um virtuose da dança, exibindo desde passos de capoeira até de frevos e maracatus. Tudo embalado em requinte e emoção. Seu talento gigantesco seria suficiente para preencher sozinho o show. No entanto, o espetáculo é uma soma de outros talentos, com brilho próprio. A bailarina Rosane Almeida, com seus passos de dança brasileira, ao mesmo tempo vigorosos e graciosos, nada fica a dever às musas do balé O Qorpo. O menino Gabriel Almeida, que é filho de Nóbrega e Rosane, mostra uma energia no surdo equiparável aos melhores ritmistas do Olodum. Todos esses ingredientes são misturados e levados ao forno em um show único, cujo ápice ocorre em pleno saguão do Tuca, com o público cantando e dançando frevos, cirandas e outras manifestações da mais comovente expressão musical brasileira: o folclore pernambucano. É show para guardar para o resto da vida. E deixa em maus lençóis aqueles que julgam que a crítica politicamente correta deve conter ressalvas. Ressalvar o quê? Show: Antonio Nóbrega Quando: sex. e sáb., às 21h30. Dom., às 20h Onde: Tuca (r. Monte Alegre, 1.024, tel. 3873-3422) Quanto: R$ 20 Próximo Texto | Índice |
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