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O BOM DO DIA
Filme de Zé Celso e Noílton Nunes é de 82
Cinemateca exibe "O Rei da Vela"
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
"O Rei da Vela", não a peça de
teatro, mas o filme de José Celso Martinez Corrêa e Noílton
Nunes, concluído em 82, é exibido hoje em sessão especial na
Sala Cinemateca (leia detalhes
no roteiro ao lado).
Não é uma obra só para os
amantes do teatro. Ao contrário, há muito de cinema ali e,
principalmente, um registro
pertinente da história do Brasil
nos últimos 40 anos.
"O Rei da Vela" junta imagens alegóricas e trechos de filmes com a remontagem que foi
feita da peça em 71. O discurso
continua sintonizado com o
mitológico espetáculo criado
por Zé Celso em 67 -sobre o
texto original de Oswald de Andrade (33)-, na reabertura do
teatro Oficina.
Mais do que um teatro, o Oficina da década de 60 esteve à
frente de um movimento que
buscava renovação linguística
em meio aos discursos de contestação da situação política
brasileira -o que envolvia ainda outros meios, como o cinema e a música popular, com figuras como Glauber Rocha e
Caetano Veloso.
O grupo se mostrou sintonizado, no palco, com os movimentos que pipocavam no
mundo inteiro. Aplicou o ideário brechtiano, utilizando as
técnicas de distanciamento
-que fazem com que o público se veja fora do espetáculo e
se atenha ao discurso. Fugiu
também das histórias lineares,
para impor um diálogo direto
com o público, assim como fez
o cinema novo.
Um ano após o Oficina ter se
incendiado (em 66), a reabertura com "O Rei da Vela" deslumbrou muitos e chocou outros tantos. Rodou o Brasil inteiro e marcou a carreira tanto
de Zé Celso como do ator Renato Borghi.
Abelardo 1º, um personagem-síntese da elite brasileira,
é considerado o papel mais
destacado de Borghi no teatro.
O ator, por sinal, deve empreender uma remontagem, dirigida pelo mesmo Zé Celso,
mais de 30 anos depois.
No longa-metragem que passa hoje, Borghi reproduz para a
câmera sua interpretação de
Abelardo 1º, e José Wilker faz
Abelardo 2º. As duas atuações,
no cenário giratório criado então para o teatro Oficina, são
pontos altos no filme.
As cenas externas, rodadas
depois da montagem de 71, não
negam o cinema. Amarram as
passagens históricas que trazem Getúlio Vargas, a repressão policial e outras.
O discurso estético de Oswald
de Andrade, "roubado" por Zé
Celso e Noílton Nunes neste "O
Rei da Vela", discurso em que a
antropofagia propõe um modelo de contestação do imperialismo, se mantém atual. É algo que a crise brasileira, hoje,
faz com que seja até mesmo
emergencial.
Como na mostra "Cinema,
Teatro e Psicanálise", a Sala Cinemateca programou um debate para depois da exibição de
"O Rei da Vela". A discussão
reunirá o crítico Aguinaldo Ribeiro da Cunha, a professora de
literatura da Unicamp Orna
Messer Levin e o co-diretor do
filme Zé Celso.
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