DA REDAÇÃO

Amigos há décadas, Caetano Veloso e Jorge Mautner fazem hoje em São Paulo o show "Eu Não Peço Desculpa", primeira parceria "real" entre os dois.
"Real" porque, antes, eles só haviam se juntado em 1971, quando a dupla encontrou-se em Londres, para gravar a música "Far from Away", uma "homenagem a Billie Holiday" que saiu numa série da gravadora Polydor.
As apresentações de São Paulo acontecem hoje e amanhã, no Via Funchal. Depois eles seguem para Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre. Os cantores não poupam elogios um ao outro para descrever a "quase" inédita parceria. "O ambiente com o Mautner, o estado mental dele cria uma atmosfera de liberdade para mim", diz Caetano. "Me sinto no céu, no Olimpo", devolve Mautner.
Do disco "Eu Não Peço Desculpa", já lançado pela dupla, entrarão no show, entre outras, as músicas "Todo Errado", "Tarado" e "Feitiço", e, segundo a dupla, não haverá muita dificuldade para fazer a transposição do estúdio para o palco: "As canções serão apresentadas de forma semelhante", afirma Caetano.
Além de músicas do álbum, Caetano e Mautner apresentarão composições da carreira solo de cada um e regravações de alguns clássicos do samba, como "Amanhã Eu Dou", de Assis Valente, e "Meu Vício É Você", de Adelino Moreira e interpretada por Nelson Gonçalves.

Brega
Na entrevista coletiva concedida para promover o show, Caetano e Mautner aproveitaram para falar de política e de algumas polêmicas da MPB, como o preconceito contra a chamada "música brega" feita no país, tema do livro "Eu Não Sou Cachorro Não" (ed. Record, R$ 40), do historiador carioca Paulo César de Araújo.
"Todas as denúncias ali são denunciáveis. Eu venho me rebelando contra esse tipo de preconceito há muito tempo", disse Caetano. "Há uma década vivem querendo que eu odeie axé music, que é a coisa que eu mais adoro. Não há nada mais "z" do que o público "classe a'", completou o cantor.
Depois, Caetano fez elogios a Lula (PT), José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS), candidatos à Presidência da República. "O nível da disputa aqui no Brasil está muito alto e não há grandes diferenças nas posturas dos candidatos. Na França eles tiveram que escolher entre Chirac e Le Pen."