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ARTES
"Sonhando de Olhos Abertos", em cartaz no Tomie Ohtake, apresenta 234 obras dadaístas e surrealistas
Mostra testemunha o engajamento radical do irracionalismo
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Que fim levou a revolução?
"Sonhando de Olhos Abertos" reúne, no Instituto Tomie
Ohtake, 234 obras testemunhando o engajamento dadá e surrealista na mudança radical dos padrões da arte. A coleção de primeira grandeza provém do Museu de Israel, em Jerusalém, e permite compreender a história desses movimentos.
Dadá é o nome genérico dado a
uma rede de artistas que circularam por Zurique, Nova York,
Barcelona, Paris, Berlim, Moscou,
Budapeste e Praga durante a Primeira Guerra e logo após. Enquanto desabava a estrutura imperial européia em meio a um banho de sangue, os dadaístas denunciavam a alta cultura eurocêntrica como parte do processo
que estava levando o mundo a um
conflito bélico nunca visto.
Contudo o progresso tecnológico tornara possível a conexão globalizada desses artistas. Desde o
início o dadá nutriu-se do paradoxo: criticava um mundo que
era sua própria condição de existência como grupo cosmopolita.
O nascimento da colagem em
1912 abrira as portas para o apagamento das fronteiras entre as diversas mídias codificadas pelas
academias de belas-artes. Se era
possível chamar de obra de arte
um misto de recortes de jornal
com os horrores da guerra, pintura e objetos cotidianos deslocados
de suas funções originais, então
toda a cultura poderia passar por
uma subversão renovadora.
O "ready-made" de Marcel Duchamp ganha destaque na mostra. Um segmento inteiro é dedicado à invenção do gênero da antiarte, com reedições da roda de
bicicleta sobre banquinho (1913/
64) e dos padrões de medida com
linha e madeira (1913/64).
Encontramos experimentos
com cinema, nos "Filmstudie"
(1926), de Richter, com tipografia,
na revista "Mecano" (1922), editada por Van Doesburg, com escultura, na "Construção" (1922), de
Joosten, e desenho, no "Centauro
na Floresta" (1919), de Arp, e em
"Tickets" (1922), de Picabia.
Porém o triunfo da revolução
na Rússia e as transformações políticas na Europa dos anos 20 colocaram em xeque o niilismo dadaísta. Urgia engajar-se nas mudanças e abandonar o ceticismo.
Surgiu, assim, o surrealismo,
em Paris, cujo primeiro manifesto
de 1924 propunha acelerar o processo revolucionário pela libertação das forças reprimidas no indivíduo, devido aos preconceitos
sexuais burgueses. Na fotomontagem "O Fenômeno do Êxtase"
(1928), de Heine, vemos mulheres
nuas revirando os olhos, solitárias
ou em enlaces homoeróticos.
A exploração do acaso, do irracional e do sonho aparece no "Cadáver Delicioso" (1936), de Picasso, Éluard e Man Ray, no "Retrato
de Picasso" (1938), por Dora
Maar, e nas "Mulheres das 11 Horas" (1947), de Tanguy.
Entretanto a internacionalização do surrealismo a partir da Segunda Guerra Mundial dissociou
progressivamente o movimento
do ímpeto revolucionário original. Na parte final da exposição,
vemos a aleatoriedade das obras
ditas surrealistas, desde a foto
com adesivos de pássaros "Sexta
Aurora", de Cornell, até o desenho "Mulher e Pássaro" (1970), de
Miró.
Sonhando de Olhos Abertos
Onde: Instituto Tomie Ohtake (r.
Coropês, 88, Pinheiros, tel. 2245-1900)
Quando: ter. a dom., das 11h às 20h; até
28 de novembro
Quanto: entrada franca
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