São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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CRÍTICA/"CINCO DIAS"

Israelense vê colaboração como saída

DA REDAÇÃO

A retirada israelense da faixa de Gaza, em agosto do ano passado, rendeu dramáticas imagens de enfrentamento entre colonos judeus e soldados e muita discussão a respeito de uma possível guerra civil.
O cineasta israelense Yoav Shamir, no entanto, resolveu mostrar que, por trás dessa tensão espetacular, o episódio revelou a capacidade de colaboração entre partes em conflito no limite da hostilidade. Assim, antes de ser a crônica de um fato histórico, o documentário "Cinco Dias" serve como prova de que cooperar, por mais desgastante que seja, é preferível ao jogo de soma zero.
O filme usa como eixo o chamado "Dilema do Prisioneiro", cuja explicação é pertinente. Dois assaltantes, suspeitos de terem cometido um crime, são colocados em celas separadas. A polícia dá a cada um deles a chance de ser libertado, desde que delate o colega -a delação é necessária para provar o crime.
Se ficarem em silêncio, isto é, se colaborarem um com o outro, ambos serão soltos; se apenas um ficar em silêncio, o outro ganha; se ambos resolverem falar, os dois perdem. O dilema é: como um preso não sabe o que o outro fará, a tendência é acreditar que será traído; logo, é mais fácil e racional não colaborar com o comparsa.

Colaboração
Num ambiente em que a violência não é retórica, tal dilema é central: significa a diferença entre civilização e barbárie. Em Gaza, os soldados tinham como missão remover 8.000 colonos judeus para que o território fosse devolvido aos palestinos.
Do outro lado, os colonos acreditavam que a terra pertencesse a Israel por direito divino, o que em princípio anularia qualquer possibilidade de diálogo.
As câmeras de Shamir, porém, mostram que havia líderes de ambos os lados com sincera disposição de colaborar, e essa colaboração apareceu justamente nos momentos em que ela parecia mais improvável. Em uma das cenas mais significativas, o general Dan Harel, responsável pela operação, leva um tapa de uma colona. O auxiliar direto do militar o incita a reagir, mas ele se nega. Aquilo, afinal, não era uma questão pessoal: acima de tudo, não deveria haver violência.
Do lado dos colonos, em certo momento um dos líderes pede que a resistência seja pacífica e que os soldados não sejam xingados de nazistas, pois isso daria aos militares razões para hostilizá-los.
A tensão crescente ameaça a todo momento fazer malograr os esforços de colaboração -que, no instante final, triunfa, pois ambos os lados superam a tentação do confronto e saem ganhando: os soldados, que cumprem sua polêmica tarefa sem derramar sangue, e os colonos, que aproveitam as câmeras de todo o mundo para expressar ruidosamente seus ideais. (MC)

Cinco Dias     
Produção: Israel, 2005
Direção: Yoav Shamir
Onde: teatro Arthur Rubinstein - Hebraica (r. Hungria, 1.000, tel. 3818-8888)
Quando: hoje, às 20h30
Quanto: entrada franca


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