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Crítica
Produção embaralha conceitos do documentário ao questionar autoria
CRÍTICO DA FOLHA
O É Tudo Verdade consolidou-se, entre outras coisas, como vitrine do caráter ensaístico e experimental de parcela representativa da produção contemporânea de documentários. Neste
ano, "Z32" é um dos melhores
exemplos de como os conceitos
tradicionais sobre o formato
caducaram.
Seu "objeto", no sentido convencional, seria um episódio vivido por um soldado israelense
de uma unidade de elite (em
que "todo mundo é Chuck Norris", segundo ele) nos territórios ocupados a partir da Segunda Intifada, em 2000. Como o jovem explica, uma "operação de vingança": mortos do
lado de cá pedem mortos do lado de lá.
Esse personagem aceita falar, mas não quer ser identificado. Como expor sua história
sem expor sua imagem? O israelense Avi Mograbi opta por
certos procedimentos, inclusive com a ajuda de efeitos digitais, e explica diante da câmera
como chegou até eles.
Não satisfaz, porém, o próprio jovem, que resolve capturar imagens, dele e da namorada, sozinhos em seu apartamento. De quem é "Z32"? Do
cineasta que resolveu dar vida a
um dos arquivos de uma organização israelense sobre as experiências de soldados nos territórios ocupados, do jovem, da
namorada?
Diretor e co-roteirista (ao lado de Noam Enbar), Mograbi
tem a prerrogativa de atribuir
sentido ao material por meio da
montagem. Sua leitura do episódio é apresentada também ao
interpretar em forma de música a história do soldado em busca do perdão de sua amada.
"Z32" é um documentário sobre um documentarista que se
aproxima desse sujeito para entender melhor suas razões, sem
lhe dar razão.
(SÉRGIO RIZZO)
Z32
Direção: Avi Mograbi
Quando: hoje e sex., às 19h, no Cinesesc; ter. (17h) e qua. (13h), no CCBB
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
Avaliação: ótimo
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