UOL


São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

Próximo Texto | Índice

MOSTRA

Filmes pouco explícitos, como "Ensaio de Orquestra", de Fellini, são ponto alto de "A Classe Operária Vai ao Cinema"

Ciclo rememora produção política italiana

Divulgação
Os atores Ornella Muti e Michele Plácido em "Romance Popular", de Mario Monicelli


JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A Itália dos anos 70, com seu influente Partido Comunista e seus fortes movimentos sociais, foi um terreno fértil para um cinema cujo motor central era a luta de classes.
Uma boa seleção dessa rubra cinematografia está no ciclo "A Classe Operária Vai ao Cinema", que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil.
Entre os sete títulos programados, os mais diretamente engajados são os que mais envelheceram: é o caso de "A Classe Operária Vai ao Paraíso" (Elio Petri, 1971) e "Sacco e Vanzetti" (Giuliano Montaldo, 1971), ambos estrelados por Gian-Maria Volonté, o ator emblemático do período.
O primeiro é uma exposição quase didática das lutas internas no movimento operário italiano numa época de cooptação dos trabalhadores pela sociedade de consumo. Uma imagem inesquecível é a do operário interpretado por Volonté estrangulando um boneco inflável do Pato Donald.
"Sacco e Vanzetti" é uma reconstituição quase hagiográfica da história de dois anarquistas italianos condenados à morte nos Estados Unidos no início do século 20 sob a falsa acusação de terrorismo. Pensando bem, não é tão datado assim.
Mas os títulos mais fortes da mostra são os que não abordam diretamente as lutas operárias, como "Ensaio de Orquestra" (1978), de Federico Fellini, e "A Árvore dos Tamancos" (1978), de Ermano Olmi.
Fellini parte dos conflitos entre os músicos de uma orquestra para fazer uma espécie de alegoria sobre o poder. Olmi, por sua vez, faz um sensível réquiem pelas tradições populares rurais soterradas pela modernidade.
A família rural como palco de uma relação de poder é o tema de outro clássico, "Pai Patrão" (1977), um dos melhores filmes dos irmãos Taviani.
Há ainda a deliciosa comédia "Romance Popular" (Mario Monicelli, 1974), em que Ugo Tognazzi sofre nas mãos da jovem mulher (Ornella Muti) e, por fim, "Mimi, o Metalúrgico", exemplar do cinema inquieto e irônico de Lina Wertmüller, estrelado por seu par favorito de atores, Giancarlo Gianninni e Mariangela Melato.


A Classe Operária Vai ao Cinema    
Quando: de hoje a 4 de maio
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil - cinema (r. Álvares Penteado, 112, centro, São Paulo; tel. 3113-3651; www.cultura-e.com.br)
Quanto: R$ 8



Próximo Texto: Artes plásticas: Leirner abre jogo de possibilidades com reinterpretação do mundo
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.