ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

"Assim É... Se lhe Parece" é o nome de uma peça de Luigi Pirandello, de 1917, em que se arma um jogo de possibilidades no qual a verdade está sujeita ao espectador. O título ganhou lugar também numa nova série de trabalhos de Nelson Leirner, 71.
"É uma exposição que, como a peça, situa a solução na imaginação de quem vê", diz Leirner. A "solução", nesse caso, é uma reinterpretação do mundo a partir dos mapas subvertidos por stickers, adesivos desses vendidos em bancas de jornal ou em sinais de trânsito, de ícones pop ou de bandeirinhas dos EUA. Quatorze atlas, os originais, e sete ampliações fotográficas dão forma ao "Assim É..." de Leirner.
As obras, realizadas em 2002, ganharam significado novo depois da guerra no Iraque. "A minha idéia era baseada na divisão entre Primeiro e Terceiro Mundos, mas de repente a guerra suscitou outras possibilidades", diz.
Continentes podem aparecer tomados por caveiras ou rostos de Meninas Superpoderosas, Hello Kitties, papais noéis. Mickeys cobrem todo o Primeiro Mundo, enquanto o Terceiro Mundo aparece infestado por caveiras. Logo ao lado, a situação se inverte.
O mapa-múndi coberto por bandeiras dos EUA ou por notas de dólar destaca uma reflexão sobre o colonialismo. "Para mim, a questão vem desde o índio. Os europeus chegaram aqui, ficaram na troca de espelhinhos e miçangas e depois escravizaram-no. A mesma coisa está acontecendo agora. Nos anos 60, os EUA tinham para com o Brasil e o resto do mundo uma política de aproximação. E hoje o artesanato é feito com latinha de Coca-Cola."
Brasil e África cobertos por caveirinhas pretas, por exemplo, simbolizam um "mesmo contexto". "Podemos ser mais avançados tecnologicamente, mas socialmente Brasil e África estão no mesmo nível", justifica Leirner. "Mas não equalizo o mundo, exceto quando coloco os EUA dominando tudo." Contudo sobra espaço para o acaso. "Às vezes acabava o adesivo na banca e tinha de mudar o rumo do mapa", explica. "Do mesmo jeito que o espectador vai lendo a obra à sua maneira, são as circunstâncias que também vão me levando."