São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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CINEMA

Megalópoles são tema do Festival Internacional de Curtas-Metragens

Selva de pedra é legítimo campo cinematográfico

PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Espaço de conflitos potencializados, contrastes surreais, experiências atípicas, quase apavorantes a quem possui um prumo mais calmo, a cidade grande é perfeita para o exercício (dramático) do cinema, por tudo que tem de gigantesco e acelerado. Pois o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo comemora sua 15ª edição com um programa especial sobre o assunto, o Foco Megacidades.
A seleção de hoje só não exibe um dos seis programas do foco, todo ele centrado em curtas produzidos -e filmados- em nove megalópoles deste planeta (veja a programação completa em www.kinoforum.org/curtas).
Pela idade, o filme de Mathew Robbins e Walter Murch tem de estar à frente dos outros. "Pista de Ultrapassagem", rodado em 1968, remete aos tempos de "boom" metropolitano de Los Angeles.
Aqui são os encontros e desencontros por avenidas e ruas movimentadas, num bom registro histórico e cinematográfico, assinado por Murch, montador de "Apocalypse Now".
Ainda que não tenha o impacto visual do indiano "O Trem Local das 9h24" -que versa sobre a mais lotada linha férrea do planeta, a de Bombaim-, não há como deixar de pinçar a importância de "Gowanus, Brooklyn", sobretudo pelo prêmio de melhor direção no último Festival de Sundance, para Ryan Fleck.
Em "9:30", um rapaz de Cingapura foge de um romance partindo para os Estados Unidos. Lá, é capturado pela saudade e fica a ligar diariamente para a amada, às 9h30. O diretor Mun Chee Yong traça uma estetizada "ponte aérea" Cingapura-Los Angeles.
Mais rotineiro do que isso é o dia-a-dia do funcionário que nunca se lembra do que aconteceu no dia anterior em "Assalariado 6", ótimo filme do inglês Kane Knight. Os prédios de Tóquio dão um senhor peso dramático.
Se São Paulo não deixa nada a dever às outras megalópoles do mundo, o cinema brasileiro também demonstra certo vigor. O clássico "Rota ABC", de Francisco César Filho, recupera outro filme sobre a cidade predadora, "São Paulo SA", para pontuar dois momentos distintos da cidade: o passado otimista e o presente cético.
E "Palíndromo", de Phillipe Barcinski, mistura drama pessoal à desumanização na cidade grande, ao mostrar a andança de um executivo em tempo invertido e gerando, assim, uma bela e brutal radiografia do desespero.


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