free-lance para a Folha

O brasileiro Carlos Nader e o americano Cary Peppermint, para quem não conhece, são videoartistas que se tornaram respeitáveis tratando de si mesmos. É que alguns de seus vídeos são relatos autobiográficos. Ao contrário do que se possa pensar, porém, o objetivo de ambos não é difundir a própria intimidade com fins mercadológicos, como fazem as Xuxas e Ana Maria Bragas da vida.
Os dois videoartistas estarão hoje, às 20h30, no Itaú Cultural (IC), discutindo a contaminação da arte contemporânea pelo corpo do artista, cada vez mais o mote de instalações e performances multimídia.
Se, na Idade Média, o retrato virou uma modalidade institucionalizada de arte, a partir da modernidade isso é revisto com o auto-retrato, talvez uma maneira amarga de o artista evidenciar que seu próprio trabalho se torna concreto unicamente porque faz referência a sua experiência pessoal.
Nada mais justo, portanto, que a galeria que reunisse a obra desse artista tivesse que apresentar também o retrato desse criador por ele mesmo desenhado.
Hoje, superado o problema da auto-representação e considerando que o retrato do artista por ele mesmo já é uma modalidade funcional de arte, o vídeo, uma mídia ainda jovem, refaz o percurso que correspondeu às belas artes.
O novaiorquino Peppermint é um dos que radicalizou essa discussão. Para realizar "Hold Up", de 1996, Peppermint trancafiou-se em um abrigo antiaéreo, a pão e água, com apenas uma câmera na mão. As imagens de seu confinamento chegavam a um quiosque instalado em um lugar público próximo ao abrigo. Registrou sua experiência do confinamento,que sentiu na própria pele.
O resultado dessa experiência-limite poderá ser visto a partir do dia 30, quando o Itaú Cultural inicia um ciclo que vai apresentar alguns trabalhos dos videoartistas que falam na palestra de hoje. De Nader, serão exibidos "Trovoada" e "Beijoqueiro: Portrait of a Serial Kisser".
(CRISTIAN AVELLO CANCINO)