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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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MOSTRA SESC DE ARTES - LATINIDADES

Evento tem participação de grupo que faz intervenções nos subterrâneos de Paris

Engajamento político "invade" festas urbanas

DA REPORTAGEM LOCAL

O Sesc Pompéia foi ocupado. E de comum acordo. Capitaneada pelos coletivos multimídia Temp e A Revolução Não Será Televisionada, a "invasão" vem acontecendo desde ontem e foi batizada de "Território de Antiespetáculo".
Reunindo videomakers, pintores, VJs e DJs de música eletrônica com a proposta de fazer arte e política ao vivo, o evento tem como convidado especial o grupo Cavage, núcleo francês conhecido por promover intervenções artísticas nas chamadas "catacumbas" do subterrâneo de Paris.
"Desde a Revolução Francesa, aquilo sempre foi uma espécie de terra de ninguém. Não tem nada de especial, mas se tornou um lugar onde você pode fazer o que quiser longe dos olhos da polícia", sublinha Boris Saoulaterre, 30, DJ fundador do Cavage e que já estuda montar a sua rave nos mesmos corredores úmidos usados por punks e skinheads da capital francesa nos anos 70 e 80.
Peculiaridades à parte, o francês vem ao Brasil acompanhado do artista plástico Franck Tiburce, que fará a tradução visual de suas batidas pesadas e experimentais usando imagens gravadas em "squats" (edifícios residenciais ocupados) de Paris.
Por trás da aparente ilegalidade, a idéia é uma só: festejar. "Queremos criar uma área de convivência entre o artista, o público e a arte feita em tempo real, um espaço para a arte espontânea, mais focada no processo", defende Daniel Gonzalez, 23, coordenador do evento e membro do Temp.
Surgida há pouco mais de um ano com a intenção de promover festas "temporárias", "sem data nem lugar marcado para acontecer", o coletivo de música eletrônica já "ocupou" espaços como a quadra da escola de samba Tom Maior, o clube underground Susi in Transe e, recentemente, até o espaço expositivo do Paço das Artes, durante o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.
Diversão e arte. "Fazemos parte de um movimento urbano que pode ser feito em qualquer lugar do mundo. Não é um movimento que foi importado, mas todo um ambiente artístico voltado ao ativismo sensorial no qual o Brasil já é um grande pólo", afirma.
Fazendo o caminho supostamente contrário e reforçando a tese de Gonzalez, A Revolução Não Será Televisionada também já começa a exportar suas imagens para outros cantos do mundo. Só nos próximos meses, Holanda, Argentina e Havana poderão conferir cenas dos seus "antiprogramas" de televisão, criados usando videoarte e cenas pirateadas das emissoras comerciais.
Entre o antiespetáculo debordiano e o espetáculo que poderá ser visto no Sesc, a fronteira é tênue. "É claro que há uma ironia aí, a gente acredita em propor um modelo de mídia um pouco menos banalizado do que o que todo mundo conhece", justifica Daniela Labra, 29, uma das integrantes do ARNST.
Na ativa desde 97, os franceses do Cavage carregam uma outra bandeira: "Se existe alguma preocupação política em nosso trabalho, é com as grandes corporações. As gravadoras dizem que o MP3 vai matar a música, e nós o vemos como a maior ferramenta de promoção artística que já existiu", diz Saoulaterre, lembrando que todos os CDs lançados por seu selo trazem as mesmas músicas também nos formatos digitais, prontas para a cópia. Antiglobalistas? "Na França, ser antiglobalização já está virando moda", descarta. (DIEGO ASSIS)


TERRITÓRIO DE ANTIESPETÁCULO. Quando: hoje, das 10h às 20h (mostra de vídeos e sets de DJ Hidráulico, Periférico e outros); das 20h à 1h (apresentações com Z'África Brasil, os coletivos Embolex e Apavoramento e outros). Onde: Sesc Pompéia - galpão e choperia (r. Clélia, 93,tel. 3871-7700). Quanto: entrada franca (shows: R$ 7).


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