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MOSTRA SESC DE ARTES - LATINIDADES
Evento tem participação de grupo que faz intervenções nos subterrâneos de Paris
Engajamento político "invade" festas urbanas
DA REPORTAGEM LOCAL
O Sesc Pompéia foi ocupado. E
de comum acordo. Capitaneada
pelos coletivos multimídia Temp
e A Revolução Não Será Televisionada, a "invasão" vem acontecendo desde ontem e foi batizada de
"Território de Antiespetáculo".
Reunindo videomakers, pintores, VJs e DJs de música eletrônica
com a proposta de fazer arte e política ao vivo, o evento tem como
convidado especial o grupo Cavage, núcleo francês conhecido por
promover intervenções artísticas
nas chamadas "catacumbas" do
subterrâneo de Paris.
"Desde a Revolução Francesa,
aquilo sempre foi uma espécie de
terra de ninguém. Não tem nada
de especial, mas se tornou um lugar onde você pode fazer o que
quiser longe dos olhos da polícia",
sublinha Boris Saoulaterre, 30, DJ
fundador do Cavage e que já estuda montar a sua rave nos mesmos
corredores úmidos usados por
punks e skinheads da capital francesa nos anos 70 e 80.
Peculiaridades à parte, o francês
vem ao Brasil acompanhado do
artista plástico Franck Tiburce,
que fará a tradução visual de suas
batidas pesadas e experimentais
usando imagens gravadas em
"squats" (edifícios residenciais
ocupados) de Paris.
Por trás da aparente ilegalidade,
a idéia é uma só: festejar. "Queremos criar uma área de convivência entre o artista, o público e a arte feita em tempo real, um espaço
para a arte espontânea, mais focada no processo", defende Daniel
Gonzalez, 23, coordenador do
evento e membro do Temp.
Surgida há pouco mais de um
ano com a intenção de promover
festas "temporárias", "sem data
nem lugar marcado para acontecer", o coletivo de música eletrônica já "ocupou" espaços como a
quadra da escola de samba Tom
Maior, o clube underground Susi
in Transe e, recentemente, até o
espaço expositivo do Paço das Artes, durante o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.
Diversão e arte. "Fazemos parte
de um movimento urbano que
pode ser feito em qualquer lugar
do mundo. Não é um movimento
que foi importado, mas todo um
ambiente artístico voltado ao ativismo sensorial no qual o Brasil já
é um grande pólo", afirma.
Fazendo o caminho supostamente contrário e reforçando a
tese de Gonzalez, A Revolução
Não Será Televisionada também
já começa a exportar suas imagens para outros cantos do mundo. Só nos próximos meses, Holanda, Argentina e Havana poderão conferir cenas dos seus "antiprogramas" de televisão, criados
usando videoarte e cenas pirateadas das emissoras comerciais.
Entre o antiespetáculo debordiano e o espetáculo que poderá
ser visto no Sesc, a fronteira é tênue. "É claro que há uma ironia aí,
a gente acredita em propor um
modelo de mídia um pouco menos banalizado do que o que todo
mundo conhece", justifica Daniela Labra, 29, uma das integrantes
do ARNST.
Na ativa desde 97, os franceses
do Cavage carregam uma outra
bandeira: "Se existe alguma preocupação política em nosso trabalho, é com as grandes corporações. As gravadoras dizem que o
MP3 vai matar a música, e nós o
vemos como a maior ferramenta
de promoção artística que já existiu", diz Saoulaterre, lembrando
que todos os CDs lançados por
seu selo trazem as mesmas músicas também nos formatos digitais, prontas para a cópia. Antiglobalistas? "Na França, ser antiglobalização já está virando moda", descarta.
(DIEGO ASSIS)
TERRITÓRIO DE ANTIESPETÁCULO.
Quando: hoje, das 10h às 20h (mostra de
vídeos e sets de DJ Hidráulico, Periférico
e outros); das 20h à 1h (apresentações
com Z'África Brasil, os coletivos Embolex
e Apavoramento e outros). Onde: Sesc
Pompéia - galpão e choperia (r. Clélia,
93,tel. 3871-7700). Quanto: entrada
franca (shows: R$ 7).
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