UOL


São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

Texto Anterior | Índice

"O SHOW NÃO PODE PARAR"

Filme conta a história de Robert Evans, o principal produtor de Hollywood nos anos 60 e 70

Documentário seria ótimo para a televisão

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Robert Evans, personagem central, narrador, causa e efeito do filme "O Show Não Pode Parar" é, para quem não conhece (e quase ninguém conhece), talvez o principal produtor de cinema dos anos 60/70.
Feitas as apresentações, resta saber por que a autobiografia de um homem célebre na indústria cinematográfica é lançada em salas de cinema, quando teria difusão muito mais adequada no canal de televisão People & Arts, por exemplo.
Dito isso, o filme pode ser visto, de imediato, por dois aspectos: como filme propriamente dito, seu interesse é mínimo. Não mais do que uma colagem de velhas imagens ilustrando com fidelidade canina a narração (coisas do tipo: quando se fala a palavra esqui, aparece um esquiador descendo uma montanha etc.).
O segundo é o da história narrada por Evans, e essa é interessantíssima. Fala de um ator sem talento que decide ser o "tycoon" da história e, em poucos anos, transforma a moribunda Paramount no mais notável estúdio de cinema, pela criatividade (clássicos como "O Poderoso Chefão", "O Bebê de Rosemary", "Chinatown" ou "Os Implacáveis" servem para abrir qualquer currículo, não?) ou pelo impacto de seus filmes (nesse sentido, é preciso tirar o chapéu para "Love Story", por exemplo).

A velha Hollywood
Para quem acompanha a vida cinematográfica, Evans é um personagem fantástico por todos os motivos.
Pela criatividade, pela tenacidade, por lembrar os velhos "tycoons" de Hollywood no que tinham de melhor (e pior).
Sua narração dá conta das disputas, da ansiedade, das jogadas arriscadas que se faz para levar adiante projetos originais (tipo dar uma grande produção como "O Poderoso Chefão" para um iniciante dirigir, pelo simples fato de ele ser de origem italiana).
Também do aspecto "grandeza e miséria de Hollywood", sua história tem muito a nos dizer: a paixão por Ali MacGraw, a dor quando ela o deixa por Steve McQueen, o envolvimento com drogas, a decadência -tudo isso é narrado com muita honestidade (talvez não toda a honestidade, mas isso não é coisa que se peça para quem escreve a própria biografia).
Por fim, o título brasileiro é anódino e não faz justiça ao original: "The Kid Stays in the Picture" (que é tirado do livro original de Evans). Ele diz respeito à frase que ouviu Darryl Zanuck pronunciar a seu próprio respeito: "O garoto continua no filme". Ao ouvi-la, Evans teve o estalo: não queria ser ator, aquele que alguém diz se fica ou não no filme. Queria ser aquele que diz quem deve ou não ficar no filme.
É uma dessas coisas que só Hollywood, a rigor, permite e que a tornam fascinante: que um homem vire Deus da noite para o dia e, depois, leve um tombo proporcional à subida.
Ninguém dirá que a vida de Robert Evans não está à altura de Hollywood.


O Show não Pode Parar
The Kid Stays in the Picture
  
Produção: EUA, 2002 Direção: Nanette Burstein e Brett Morgen Quando: em cartaz no Cinearte



Texto Anterior: Mostra Sesc de artes - Latinidades: Engajamento político "invade" festas urbanas
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.