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"O SHOW NÃO PODE PARAR"
Filme conta a história de Robert Evans, o principal produtor de Hollywood nos anos 60 e 70
Documentário seria ótimo para a televisão
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Robert Evans, personagem
central, narrador, causa e
efeito do filme "O Show Não Pode
Parar" é, para quem não conhece
(e quase ninguém conhece), talvez o principal produtor de cinema dos anos 60/70.
Feitas as apresentações, resta saber por que a autobiografia de um
homem célebre na indústria cinematográfica é lançada em salas de
cinema, quando teria difusão
muito mais adequada no canal de
televisão People & Arts, por
exemplo.
Dito isso, o filme pode ser visto,
de imediato, por dois aspectos:
como filme propriamente dito,
seu interesse é mínimo. Não mais
do que uma colagem de velhas
imagens ilustrando com fidelidade canina a narração (coisas do tipo: quando se fala a palavra esqui,
aparece um esquiador descendo
uma montanha etc.).
O segundo é o da história narrada por Evans, e essa é interessantíssima. Fala de um ator sem talento que decide ser o "tycoon" da
história e, em poucos anos, transforma a moribunda Paramount
no mais notável estúdio de cinema, pela criatividade (clássicos
como "O Poderoso Chefão", "O
Bebê de Rosemary", "Chinatown" ou "Os Implacáveis" servem para abrir qualquer currículo, não?) ou pelo impacto de seus
filmes (nesse sentido, é preciso tirar o chapéu para "Love Story",
por exemplo).
A velha Hollywood
Para quem acompanha a vida
cinematográfica, Evans é um personagem fantástico por todos os
motivos.
Pela criatividade, pela tenacidade, por lembrar os velhos
"tycoons" de Hollywood no que
tinham de melhor (e pior).
Sua narração dá conta das disputas, da ansiedade, das jogadas
arriscadas que se faz para levar
adiante projetos originais (tipo
dar uma grande produção como
"O Poderoso Chefão" para um
iniciante dirigir, pelo simples fato
de ele ser de origem italiana).
Também do aspecto "grandeza
e miséria de Hollywood", sua história tem muito a nos dizer: a paixão por Ali MacGraw, a dor quando ela o deixa por Steve
McQueen, o envolvimento com
drogas, a decadência -tudo isso
é narrado com muita honestidade
(talvez não toda a honestidade,
mas isso não é coisa que se peça
para quem escreve a própria biografia).
Por fim, o título brasileiro é anódino e não faz justiça ao original:
"The Kid Stays in the Picture"
(que é tirado do livro original de
Evans). Ele diz respeito à frase que
ouviu Darryl Zanuck pronunciar
a seu próprio respeito: "O garoto
continua no filme". Ao ouvi-la,
Evans teve o estalo: não queria ser
ator, aquele que alguém diz se fica
ou não no filme. Queria ser aquele
que diz quem deve ou não ficar no
filme.
É uma dessas coisas que só
Hollywood, a rigor, permite e que
a tornam fascinante: que um homem vire Deus da noite para o dia
e, depois, leve um tombo proporcional à subida.
Ninguém dirá que a vida de Robert Evans não está à altura de
Hollywood.
O Show não Pode Parar
The Kid Stays in the Picture
Produção: EUA, 2002
Direção: Nanette Burstein e Brett
Morgen
Quando: em cartaz no Cinearte
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