São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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Selton Mello faz estréia na direção com curta

Diretor diz que ostracismo de Jorge Loredo inspirou "Quando o Tempo Cair"

Projetos futuros incluem novo filme de Andrucha Waddington e direção do 1º longa, "história familiar, urbana e contemporânea"


Divulgação
Jorge Loredo, o Zé Bonitinho da TV, vive um aposentado que tenta voltar à ativa em "Quando o Tempo Cair", de Selton Mello


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um filme concebido para reapresentar um ator ao cinema. É assim que Selton Mello, 33, descreve sua estréia na direção, "Quando o Tempo Cair", que está na programação de hoje do 17º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Quem ele conduz de volta à película, depois de um longo hiato, é Jorge Loredo, 81, o Zé Bonitinho da TV. "Entrevistei-o no "Tarja Preta" [programa do Canal Brasil] e aquilo [trabalhar com Loredo] virou uma obsessão na minha vida.
Ele é um cara ativo, lúcido." O esquecimento do ator veterano inspirou o roteiro, assinado por Mello e Marcelo Vindicatto. "Fiz uma associação entre a exclusão do Loredo, que não filmava desde "Tudo Bem" (1978), de Arnaldo Jabor, e a vida cotidiana. Um cara da idade dele, hoje, está perdido. Além disso, [no que se refere a atores] o Brasil é um país que rotula o sujeito. O maior sonho dele era fazer um personagem humano, sem máscara, real", diz Mello.
"Quando o Tempo Cair" narra a tentativa de um aposentado (Loredo) de regressar ao mercado de trabalho. Com o filho em depressão e um neto a sustentar, ele decide voltar à ativa. Mas vê o intento ser frustrado por um "processo de reengenharia corporativa".
No plano real, não há risco de Loredo ser dispensado. "O próximo longa da Laís Bodanzky ["Bicho de Sete Cabeças"] se passa num clube da terceira idade. Falei com ela que precisava conhecer Loredo. Ele vai fazer o filme. Minha missão está cumprida. Não foi só uma bala perdida", orgulha-se Mello.
Se depender do ator-diretor, o topete e os óculos extravagantes de Zé Bonitinho não voltarão à carga por um bom tempo: Loredo integra o elenco do longa que Mello pretende rodar em 2007, "uma história familiar, urbana e contemporânea".
Mello diz que encontrou na direção uma forma de expressão mais reveladora de gostos e influências. "Quando você dirige, mostra mais claramente quem é. O público saca o seu olhar, a sua viagem." E conta onde aprendeu o ofício. "O curso teórico eu fiz no "Tarja Preta", entrevistando mais de cem pessoas e mergulhando na filmografia delas. No prático, fui a campo, participando de produções de baixo e alto orçamento, rodadas em 16 mm e 35 mm."
Mas a direção não afasta Mello da função que o fez conhecido. Nesta semana, ele começou a ensaiar "Federal", de Eryk de Castro, em que vive um agente da PF. Ainda em 2006, ele filma "Meu Nome não é Johnny", baseado no livro de Guilherme Fiúza sobre o homem que, nos anos 80, tornou-se o "barão da cocaína" do Baixo Leblon.
Na safra 2007, já figuram os lançamentos de "O Cheiro do Ralo" (reedição da parceria com Heitor Dhalia) e "Os Desafinados", crônica dos encontros e desencontros de quatro músicos e um cineasta (adivinha quem?) nos anos 60, assinada por Walter Lima Jr. Ele também estará em "Os Penetras", de Andrucha Waddington.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTAS - PANORAMA BRASIL 2
Quando:
hoje, às 18h
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3383-3402)
Quanto: entrada franca


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