Ciclo sobre o tema apresenta nove produções

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Quanto mais se tenta esquecer a política, uma reação quase natural ao mal-estar provocado pelos políticos, mais ela retorna sob a forma de recalque. A arte contemporânea está aí para não enganar ninguém, ao contrário, abrindo nossos olhos para o que verdadeiramente importa.
Nesse campo de representações cujo objetivo nunca é embelezar, mas ampliar nossa compreensão do contemporâneo em toda a sua escala de sentidos, o cinema ocupa uma posição-chave. Arte coletiva em todos os sentidos da palavra, seja como modo de produção seja como modo de recepção, o cinema reflete nossa época e seus problemas com uma acuidade crescente.
Para tornar a tendência mais evidente, o ciclo de debates "O Esquecimento da Política", em curso desde a quarta passada no Sesc Paulista, promove a mostra "O Cinema que Reinventa a Política", que acontece a partir de hoje no Reserva Cultural.
Os filmes, selecionados por Jean Michel Frodon, atual diretor de redação da francesa "Cahiers du Cinéma", uma das mais influentes revistas de crítica de cinema do mundo, evidenciam essa presença do político em nove filmes europeus produzidos a partir de 2001.
Quatro títulos da seleção são ainda inéditos no país, e outros cinco já foram exibidos. Entre os inéditos, dois ocupam um lugar de primeira grandeza e importância: "Amantes Constantes" e "A Comédia do Poder". O primeiro, dirigido por Philippe Garrel, retoma a proposição lançada por Bertolucci em "Os Sonhadores", mas excluindo o fetiche da cinefilia como motivo central. Trata-se, para Garrel, de olhar uma utopia do passado e enxergá-la dentro do âmbito dos anseios de uma juventude cujos valores revolucionários de algum modo se impuseram, descartando sua força subversiva. O segundo é mais uma incursão cruel de Claude Chabrol no universo das grandes decisões, revelando com seu habitual sarcasmo as intrigas por trás da investigação judicial de um escândalo financeiro. A primeira sessão do filme, que acontece hoje, terá apresentação de Jean Michel Frodon.