São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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Companhia Odeon traz metáforas da opressão em "O Coordenador"

DA REPORTAGEM LOCAL

Nascido no país de Pinochet, o chileno Benjamín Galemiri, 46, sabe bem do que escreve em "O Coordenador" (1993): a manipulação pelo poder. Aqui, não necessariamente aquele que oprime covardemente nos porões de uma ditadura, mas o que anula o outro (ou tenta) por meio da palavra, esta matéria-prima do teatro.
Por isso, é verborrágico o jogo que envolve quatro personagens num elevador. Mas a montagem da mineira Odeon Companhia Teatral, que chega para temporada amanhã no Sérgio Cardoso, rende-se à carne e busca correlação na acentuada expressão corporal e na ocupação do espaço.
No espetáculo, o elevador é apenas sugerido. Os atores permanecem, ou melhor, equilibram-se sobre uma plataforma de 3 m2. Os próprios personagens regulam o nível do piso.
Conforme a cenografia de André Cortez, não há as quatro paredes de aço. O diretor Carlos Gradim pretende extrair dos atores uma claustrofobia simbólica.
Para Gradim, o texto de Galemiri também pode ser lido à luz da disputa entre homem e mulher (no amor, no trabalho) ou ainda da submissão dos países subdesenvolvidos e ausência de posturas política e econômica confiantes por parte destes.
O "coordenador" poderia ser Marlon (Nivaldo Pedrosa), espécie de ascensorista para o cadafalso. Em princípio, é ele quem dita as regras aos que estão, física e emocionalmente enclausurados. Por ordem de entrada, Milan (Gustavo Werneck), Brigitte (Yara de Novaes) e Amiel (Geraldo Peninha).

O ator e o espaço
Dão-se os embates. O homem frustrado profissional e amorosamente. A mulher que tenta subir na vida. E o velho complexado por ter participado de uma guerra e não conseguir dialogar com o filho. Os três, à mercê de culpas e fraquezas, são colocados em xeque por Marlon.
"Isso é o que parece, porque aos poucos a mulher vai se tornando seu principal oponente", diz Yara de Novaes, 37, que ajudou a fundar a companhia Odeon em 1998, ao lado de Gradim e outros.
Quem assistiu a "Amor e Restos Humanos", peça do canadense Brad Fraser, também dirigida por Gradim, que passou pelo mesmo Sérgio Cardoso em 2003, nota a inquietação da Odeon para a busca de caminhos que não dissociem o ator do espaço.
Não por acaso, a cenografia de Cortez e a iluminação de Telma Fernandes estão na gênese de qualquer encenação da premiada companhia de Belo Horizonte (o texto do dramaturgo e roteirista Galemiri, por exemplo, levou o Prêmio Usiminas/Sinparc de 2003). (VS)


O COORDENADOR. De: Benjamín Galemiri. Tradução: Edmundo de Novaes Gomes. Direção: Carlos Gradim. Assistente de direção: Michelle Costa. Com: Odeon Companhia Teatral (Nivaldo Pedrosa, Yara de Novaes, Gustavo Werneck e Geraldo Peninha). Onde: teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 288-0136). Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 31/10. Quanto: R$ 20. Patrocinador: MSA Tecnologia de Informações.


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