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Companhia Odeon traz metáforas da opressão em "O Coordenador"
DA REPORTAGEM LOCAL
Nascido no país de Pinochet, o
chileno Benjamín Galemiri, 46,
sabe bem do que escreve em "O
Coordenador" (1993): a manipulação pelo poder. Aqui, não necessariamente aquele que oprime
covardemente nos porões de uma
ditadura, mas o que anula o outro
(ou tenta) por meio da palavra,
esta matéria-prima do teatro.
Por isso, é verborrágico o jogo
que envolve quatro personagens
num elevador. Mas a montagem
da mineira Odeon Companhia
Teatral, que chega para temporada amanhã no Sérgio Cardoso,
rende-se à carne e busca correlação na acentuada expressão corporal e na ocupação do espaço.
No espetáculo, o elevador é apenas sugerido. Os atores permanecem, ou melhor, equilibram-se
sobre uma plataforma de 3 m2. Os
próprios personagens regulam o
nível do piso.
Conforme a cenografia de André Cortez, não há as quatro paredes de aço. O diretor Carlos Gradim pretende extrair dos atores
uma claustrofobia simbólica.
Para Gradim, o texto de Galemiri também pode ser lido à luz da
disputa entre homem e mulher
(no amor, no trabalho) ou ainda
da submissão dos países subdesenvolvidos e ausência de posturas política e econômica confiantes por parte destes.
O "coordenador" poderia ser
Marlon (Nivaldo Pedrosa), espécie de ascensorista para o cadafalso. Em princípio, é ele quem dita
as regras aos que estão, física e
emocionalmente enclausurados.
Por ordem de entrada, Milan
(Gustavo Werneck), Brigitte (Yara de Novaes) e Amiel (Geraldo
Peninha).
O ator e o espaço
Dão-se os embates. O homem
frustrado profissional e amorosamente. A mulher que tenta subir
na vida. E o velho complexado
por ter participado de uma guerra
e não conseguir dialogar com o filho. Os três, à mercê de culpas e
fraquezas, são colocados em xeque por Marlon.
"Isso é o que parece, porque aos
poucos a mulher vai se tornando
seu principal oponente", diz Yara
de Novaes, 37, que ajudou a fundar a companhia Odeon em 1998,
ao lado de Gradim e outros.
Quem assistiu a "Amor e Restos
Humanos", peça do canadense
Brad Fraser, também dirigida por
Gradim, que passou pelo mesmo
Sérgio Cardoso em 2003, nota a
inquietação da Odeon para a busca de caminhos que não dissociem o ator do espaço.
Não por acaso, a cenografia de
Cortez e a iluminação de Telma
Fernandes estão na gênese de
qualquer encenação da premiada
companhia de Belo Horizonte (o
texto do dramaturgo e roteirista
Galemiri, por exemplo, levou o
Prêmio Usiminas/Sinparc de
2003).
(VS)
O COORDENADOR. De: Benjamín
Galemiri. Tradução: Edmundo de Novaes
Gomes. Direção: Carlos Gradim.
Assistente de direção: Michelle Costa.
Com: Odeon Companhia Teatral (Nivaldo
Pedrosa, Yara de Novaes, Gustavo
Werneck e Geraldo Peninha). Onde:
teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal
Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, Bela
Vista, tel. 288-0136). Quando: estréia
amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom.,
às 19h; até 31/10. Quanto: R$ 20.
Patrocinador: MSA Tecnologia de
Informações.
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