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Johnny Alf volta aos palcos após enfrentar doença
Sem fazer shows há dois anos para tratar de tumor na próstata, músico se apresenta hoje e amanhã no Sesc Vila Mariana
Compositor, que achou "um desespero" ficar afastado, se apresenta com Leny Andrade, Alaíde Costa e o saxofonista Boudrioua
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nos últimos dois anos, ele se
viu privado de um de seus
maiores prazeres. Algo que
Johnny Alf fazia quase todas as
noites desde a década de 50: tocar piano e cantar suas sofisticadas composições nos melhores palcos e nas melhores casas
noturnas do país.
Refeito da batalha contra um
tumor de próstata, o músico e
precursor da bossa nova se
apresenta hoje e amanhã no
Sesc Vila Mariana. Ao seu lado,
terá três convidados: o saxofonista Idriss Boudrioua e as cantoras Leny Andrade e Alaíde
Costa, que interpretam suas
canções há décadas.
"Quero continuar minha carreira e voltar a compor", diz Alf,
prestes a completar 80 anos,
em entrevista à Folha.
FOLHA - Quem sabe de seu pioneirismo na música brasileira achou injusto que você tenha aparecido tão
pouco nas comemorações do cinquentenário da bossa nova. O que
pensa sobre isso?
JOHNNY ALF - Como eu estava
meio acamado, não tive a chance de sair muito para tocar. O
que pude fazer, eu fiz. Foi legal.
FOLHA - Como foi ficar longe dos
palcos?
ALF - Foi difícil, um desespero,
mas, como era uma questão de
saúde, tive de aceitar. Compreendi que era necessário me
afastar para me recuperar.
FOLHA - Você se desfez de sua discoteca há alguns anos. Chegou a ficar desiludido com a música?
ALF - Fiz isso porque cansei de
ouvir música. Eu era tão viciado em ouvir música que isso até
me prejudicava, porque me
atrasava para fazer outras coisas. E quando precisava mudar
de casa, os discos viravam um
problema. Mas ainda tenho tudo que ouvi em minha cabeça.
FOLHA - João Donato disse, no ano
passado, que não aguentava mais
falar em bossa nova, que gosta mesmo é de jazz. Sua ligação com o jazz
também foi forte, não?
ALF - Sempre toquei no meu
estilo. O jazz eu usava de vez em
quando, mas meu forte mesmo
é a música brasileira. Cresci ouvindo rádio, então fui determinado pela música de Custódio
Mesquita, Ary Barroso, Caymmi e outros. O jazz eu adquiri
porque, quando era jovem, via
aqueles filmes americanos, que
me impregnaram bastante. Tive a ideia de juntar a música
brasileira com o jazz. Tento
juntar todas [as influências] para conseguir um resultado
agradável.
FOLHA - Você acha que a história
da criação da bossa nova está bem
contada?
ALF - Sempre fiquei à parte. As
pessoas estavam lá, mas eu ficava na minha. Acho engraçado
quando as pessoas começam a
se eleger, mas não porque queira reclamar algo para mim. Eu
fazia música porque tinha vontade de fazer. Não me ligo nesse
negócio de títulos. Toco sem a
intenção de reivindicar nada.
FOLHA - Está contente com o crédito musical que recebeu até hoje?
ALF- Fico satisfeito, pelo menos não sou esquecido de todo.
Minha música sempre foi considerada difícil. As gravadoras
sentiam o valor da minha música, embora não tivesse apelo
comercial como elas gostariam.
FOLHA - É verdade que pensou em
trocar o seu nome artístico, na década de 50?
ALF - Adquiri o apelido Johnny
Alf quando tocava no Instituto
Brasil Estados Unidos, no Rio.
Pensei em trocá-lo por Alfredo
José, meu nome verdadeiro,
quando comecei a tocar na noite. Mas o pessoal já me conhecia por Johnny, até porque eu
tocava muito jazz. Valeu a pena.
FOLHA - Chegou a enfrentar preconceito racial ou por ter influências
norte-americanas em sua música?
ALF - Isso nunca aconteceu comigo, sempre fui bem recebido.
As pessoas que frequentavam
os lugares onde eu tocava também tinham preferência pela
música americana.
FOLHA - Você completa 80 anos
em maio. Como encara isso?
ALF - Estou satisfeito, porque
ainda sou bem conhecido e requisitado. Meus discos estão
sendo relançados com sucesso.
Estou no caminho que eu sempre desejei.
JOHNNY ALF
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, tel. 5080-3000, Vila Mariana)
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 30
Classificação: não indicado a menores
de 12 anos
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