São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

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Johnny Alf volta aos palcos após enfrentar doença

Sem fazer shows há dois anos para tratar de tumor na próstata, músico se apresenta hoje e amanhã no Sesc Vila Mariana

Compositor, que achou "um desespero" ficar afastado, se apresenta com Leny Andrade, Alaíde Costa e o saxofonista Boudrioua

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nos últimos dois anos, ele se viu privado de um de seus maiores prazeres. Algo que Johnny Alf fazia quase todas as noites desde a década de 50: tocar piano e cantar suas sofisticadas composições nos melhores palcos e nas melhores casas noturnas do país. Refeito da batalha contra um tumor de próstata, o músico e precursor da bossa nova se apresenta hoje e amanhã no Sesc Vila Mariana. Ao seu lado, terá três convidados: o saxofonista Idriss Boudrioua e as cantoras Leny Andrade e Alaíde Costa, que interpretam suas canções há décadas. "Quero continuar minha carreira e voltar a compor", diz Alf, prestes a completar 80 anos, em entrevista à Folha.

 

FOLHA - Quem sabe de seu pioneirismo na música brasileira achou injusto que você tenha aparecido tão pouco nas comemorações do cinquentenário da bossa nova. O que pensa sobre isso?
JOHNNY ALF
- Como eu estava meio acamado, não tive a chance de sair muito para tocar. O que pude fazer, eu fiz. Foi legal.

FOLHA - Como foi ficar longe dos palcos?
ALF
- Foi difícil, um desespero, mas, como era uma questão de saúde, tive de aceitar. Compreendi que era necessário me afastar para me recuperar.

FOLHA - Você se desfez de sua discoteca há alguns anos. Chegou a ficar desiludido com a música?
ALF
- Fiz isso porque cansei de ouvir música. Eu era tão viciado em ouvir música que isso até me prejudicava, porque me atrasava para fazer outras coisas. E quando precisava mudar de casa, os discos viravam um problema. Mas ainda tenho tudo que ouvi em minha cabeça.

FOLHA - João Donato disse, no ano passado, que não aguentava mais falar em bossa nova, que gosta mesmo é de jazz. Sua ligação com o jazz também foi forte, não?
ALF
- Sempre toquei no meu estilo. O jazz eu usava de vez em quando, mas meu forte mesmo é a música brasileira. Cresci ouvindo rádio, então fui determinado pela música de Custódio Mesquita, Ary Barroso, Caymmi e outros. O jazz eu adquiri porque, quando era jovem, via aqueles filmes americanos, que me impregnaram bastante. Tive a ideia de juntar a música brasileira com o jazz. Tento juntar todas [as influências] para conseguir um resultado agradável.

FOLHA - Você acha que a história da criação da bossa nova está bem contada?
ALF
- Sempre fiquei à parte. As pessoas estavam lá, mas eu ficava na minha. Acho engraçado quando as pessoas começam a se eleger, mas não porque queira reclamar algo para mim. Eu fazia música porque tinha vontade de fazer. Não me ligo nesse negócio de títulos. Toco sem a intenção de reivindicar nada.

FOLHA - Está contente com o crédito musical que recebeu até hoje?
ALF
- Fico satisfeito, pelo menos não sou esquecido de todo. Minha música sempre foi considerada difícil. As gravadoras sentiam o valor da minha música, embora não tivesse apelo comercial como elas gostariam.

FOLHA - É verdade que pensou em trocar o seu nome artístico, na década de 50?
ALF
- Adquiri o apelido Johnny Alf quando tocava no Instituto Brasil Estados Unidos, no Rio. Pensei em trocá-lo por Alfredo José, meu nome verdadeiro, quando comecei a tocar na noite. Mas o pessoal já me conhecia por Johnny, até porque eu tocava muito jazz. Valeu a pena.

FOLHA - Chegou a enfrentar preconceito racial ou por ter influências norte-americanas em sua música?
ALF
- Isso nunca aconteceu comigo, sempre fui bem recebido. As pessoas que frequentavam os lugares onde eu tocava também tinham preferência pela música americana.

FOLHA - Você completa 80 anos em maio. Como encara isso?
ALF
- Estou satisfeito, porque ainda sou bem conhecido e requisitado. Meus discos estão sendo relançados com sucesso. Estou no caminho que eu sempre desejei.

JOHNNY ALF
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000, Vila Mariana)
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 30 Classificação: não indicado a menores de 12 anos


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