São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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MOSTRA DE CINEMA "LOUISE (TAKE 2)"
Siegfried procura o novo cinema francês

THIAGO STIVALETTI
free-lance para a Folha

"Louise (Take 2)", longa de estréia do diretor francês Siegfried -que ficou entre os 12 finalistas ao Prêmio do Júri da Mostra para novos diretores- pode ser visto como uma mistura de elementos que o cinema francês vem incorporando há mais de uma década na tentativa de se livrar de seus preceitos consagrados: os conflitos do coração (de preferência representado por um triângulo amoroso), a direção lenta e contemplativa e os diálogos equilibrados entre o romantismo e o existencialismo.
Em vez de um triângulo amoroso, há um triângulo familiar: uma moça que vaga pelas ruas de Paris (Elodie Bouchez, de "A Vida Sonhada dos Anjos") junta-se a um vagabundo metido a Don Juan e a um menino, filho de um mendigo que vive no metrô.
A câmera levemente tremida e o uso econômico da trilha sonora evocam o Dogma dinamarquês -quem viu "Amantes - Dogma 5", também exibido na Mostra e com a mesma Elodie como protagonista, notará a semelhança.
Em certas sequências, a direção frenética e a fotografia borrada estão mais próximas dos videoclipes da MTV.
O próprio cinema francês dos anos 90 deixa seu rastro: o clima onírico de algumas cenas remete a "A Vida Sonhada dos Anjos", uma certa investigação das esquinas de Paris e seu submundo lembram "Os Amantes de Pont-Neuf".
Fazendo um mistério com cara de marketing em torno de seu sobrenome, Siegfried, que está mais para a música do que para o cinema (ele compôs a trilha sonora do filme), é a própria encarnação desse ecletismo: toca violoncelo, compõe e faz misturas de jazz moderno com hip hop, sons orientais ou qualquer outro que apareça.
O resultado final espelha esse desencontro: a sensação de "bagunça" não permite ao espectador divertir-se ou encantar-se com aquilo que é visto, mas a honestidade da criação o faz testemunhar o laboratório efervescente em que se transformou o cinema francês de uns anos para cá.
Falta encontrar um elemento novo, decididamente original, que independa de falsos radicalismos.
Em tempo: se existe uma idéia subjacente a "Louise", é a preocupação com o ócio, tão em voga atualmente com os trabalhos do italiano Domenico De Masi e de outros sociólogos. A última cena, em especial, dá vontade de nunca mais pisar em um local de trabalho.


Avaliação:   

Filme: Louise (Take 2) (Louise (Take 2)) Direção: Siegfried Produção: França, 1998, 110 min Quando: hoje, às 13h, na Cinemateca (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, tel. 5084-2177) Outra exibição na Mostra: não há

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