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MOSTRA DE CINEMA "LOUISE (TAKE 2)"
Siegfried procura o novo cinema francês
THIAGO STIVALETTI
free-lance para a Folha
"Louise (Take 2)", longa de estréia do diretor francês Siegfried
-que ficou entre os 12 finalistas
ao Prêmio do Júri da Mostra para
novos diretores- pode ser visto
como uma mistura de elementos
que o cinema francês vem incorporando há mais de uma década
na tentativa de se livrar de seus
preceitos consagrados: os conflitos do coração (de preferência representado por um triângulo
amoroso), a direção lenta e contemplativa e os diálogos equilibrados entre o romantismo e o
existencialismo.
Em vez de um triângulo amoroso, há um triângulo familiar: uma
moça que vaga pelas ruas de Paris
(Elodie Bouchez, de "A Vida Sonhada dos Anjos") junta-se a um
vagabundo metido a Don Juan e a
um menino, filho de um mendigo
que vive no metrô.
A câmera levemente tremida e o
uso econômico da trilha sonora
evocam o Dogma dinamarquês
-quem viu "Amantes - Dogma
5", também exibido na Mostra e
com a mesma Elodie como protagonista, notará a semelhança.
Em certas sequências, a direção
frenética e a fotografia borrada estão mais próximas dos videoclipes da MTV.
O próprio cinema francês dos
anos 90 deixa seu rastro: o clima
onírico de algumas cenas remete
a "A Vida Sonhada dos Anjos",
uma certa investigação das esquinas de Paris e seu submundo lembram "Os Amantes de Pont-Neuf".
Fazendo um mistério com cara
de marketing em torno de seu sobrenome, Siegfried, que está mais
para a música do que para o cinema (ele compôs a trilha sonora do
filme), é a própria encarnação
desse ecletismo: toca violoncelo,
compõe e faz misturas de jazz
moderno com hip hop, sons
orientais ou qualquer outro que
apareça.
O resultado final espelha esse
desencontro: a
sensação de
"bagunça" não
permite ao espectador divertir-se ou encantar-se com
aquilo que é
visto, mas a honestidade da
criação o faz
testemunhar o
laboratório
efervescente
em que se
transformou o cinema francês de
uns anos para cá.
Falta encontrar um elemento
novo, decididamente original,
que independa de falsos radicalismos.
Em tempo: se existe uma idéia
subjacente a "Louise", é a preocupação com o ócio, tão em voga
atualmente com os trabalhos do
italiano Domenico De Masi e de
outros sociólogos. A última cena,
em especial, dá vontade de nunca
mais pisar em um local de trabalho.
Avaliação:
Filme: Louise (Take 2) (Louise (Take 2))
Direção: Siegfried
Produção: França, 1998, 110 min
Quando: hoje, às 13h, na Cinemateca
(lgo. Senador Raul Cardoso, 207, tel.
5084-2177)
Outra exibição na Mostra: não há
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