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OPINIÃO
O desafio da rodada do milênio
PEDRO DE CAMARGO NETO
A negociação da rodada Uruguai, embora tenha tido o reconhecido mérito de incluir de maneira definitiva o comércio agrícola nas regras multilaterais da
Organização Mundial de Comércio, abriu poucos novos mercados para o Brasil. A próxima rodada, que para o setor agrícola
inicia-se este ano em Seatle
(EUA), carrega o desafio de aumentar as exportações.
A questão do prazo será essencial. A globalização, a pressão da
balança de pagamentos, o equilíbrio das transações correntes, a
retomada do desenvolvimento e a
geração de empregos exigem resultados rápidos. O cronograma
da Alca, a aproximação com a
União Européia e o fortalecimento do Mercosul também. O prazo
natural é de três anos. Precisamos
deste prazo e temos o frágil trunfo
da cláusula de paz da rodada Uruguai. Termina no fim de 2002 a liberdade irrestrita para subsidiar.
A partir desta data, poderemos
contestar as políticas.
O formato da negociação já está
montado. O mérito da rodada
Uruguai foi direcionar as negociações agrícolas para três grandes frentes: acesso a mercados,
políticas internas e subsídio para
a exportação. Não é preciso inventar e, sim, procurar avanços.
A negociação de acesso a mercado será sempre prioritária. A
etapa de tarifar, isso é, transformar em tarifas com transparência
as barreiras, trabalho fundamental da rodada Uruguai, está cumprida. Deixou como legado tarifas
absurdas e complexos sistemas de
quotas tarifárias. Será preciso reduzir tarifas e ampliar quotas, aumentando o acesso. Como? Da
maneira que for possível e que garanta um contínuo aumento de
mercados. Não se esperam milagres; se exige progresso.
As políticas internas serão certamente campo de grandes discussões. A proposta de multifuncionalidade da agricultura defendida pela União Européia, onde o
agricultor passa a ser visto não só
como um produtor de bens agrícolas, mas como um guardião da
qualidade de vida da nação e
mantenedor do espaço rural, e a
recente violência dos subsídios
norte-americanos, exigirão cuidado e debate. Será preciso enquadrar os excessos. É preciso,
porém, reconhecer que é impossível proibir políticas internas que
contam com amplo apoio da sociedade. Até mesmo no Brasil, a
ausência de políticas internas
compensatórias é fruto, antes de
mais nada, de limitações orçamentárias.
É preciso transformar os suportes nos preços de mercado em suportes na renda do agricultor.
Apoios à renda continuam certamente a significar distorções ao
comércio, mesmo que incluam
restrições orçamentárias. São, porém, muito melhores que os
apoios por meio de preços. Representam um avanço e garantem
transparência, possivelmente tornando-se de difícil sustentação
política no futuro.
Os subsídios à exportação precisarão ser terminados. A eliminação dessa prática comercial injusta não implica negar nenhum
dos princípios fundamentais das
políticas internas. A eliminação
dessa prática somente obriga a
que os desajustes entre demanda
e oferta sejam realizados internamente, acabando com a simplista
e prejudicial desova de excedentes no mercado externo.
É preciso obrigar que os países
ricos paguem integralmente suas
políticas internas, rejeitando que
transfiram parte deste custo para
os países em desenvolvimento.
Existe aqui uma concreta possibilidade de avanço, de grande significado econômico. Será preciso
grande pressão, pois necessitamos disso com enorme urgência.
Pedro de Camargo Neto, 50, doutor em engenharia, é presidente do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária de São Paulo e diretor do International Policy Council on Agriculture, Food and Trade.
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