São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2001

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AMAZÔNIA

Crescimento das exportações para Portugal e para o México leva empresas a investir no aumento das lavouras

Fruto da floresta quer ganhar o mundo

Eder Chiodetto/Folha Imagem
Plantação da fazenda Santa Helena, que pertence à AmBev, em Maués, a 250 km de Manaus; colheita dos 441 hectares termina no final deste mês


SEBASTIÃO NASCIMENTO
ENVIADO ESPECIAL A MAUÉS (AM)

Estimuladas pelo crescimento das vendas de guaraná no mercado internacional, as empresas estão aumentando os seus investimentos na Amazônia. Elas querem garantir o suprimento da matéria-prima, pois a demanda pelos refrigerantes que fabricam também evolui internamente.
A AmBev, que está aplicando R$ 500 milhões em todo o país neste ano, destinou R$ 140 milhões à ampliação da sua fábrica de produção do guaraná Antarctica em Maués, a 250 km de Manaus, e desenvolveu clones resistentes à doença antracnose.
""Formamos neste ano um viveiro com 35 mil clones produzidos aqui na fazenda Santa Helena e que serão distribuídos aos plantadores do fruto na região", afirma Renato Cardoso, 40, gerente da propriedade de 1.070 hectares, dos quais 441 hectares são cultivados com o guaraná.
A Coca-Cola não fica atrás. Em Presidente Figueiredo, a 170 km de Manaus, a empresa, que operava somente com a matéria-prima dos agricultores, resolveu formar a sua lavoura própria e já plantou 200 hectares neste ano.
"A proposta é cultivar 600 hectares com o guaraná até o final de 2003", afirma Amaury de Azevedo, consultor de estratégia financeira do grupo.
Segundo ele, a intenção da empresa é não depender exclusivamente do produtor para o fornecimento da matéria-prima.
"Cresce a participação do nosso guaraná, o Kuat, no mercado interno e lá fora. Daí a importância de também termos nossa própria produção", explica.
Segundo ele, a Coca-Cola fez seu primeiro embarque de extrato de guaraná para o México em abril deste ano.
""Apesar de a fase ser experimental, em novembro último já havíamos faturado mais de US$ 500 mil, ultrapassando a expectativa de fechar o ano com a receita de US$ 400 mil", diz.
Ele revela que o extrato do guaraná enviado para o México é usado lá para a fabricação de refrigerante e de uma bebida energética.
A AmBev, um pouco mais ambiciosa, coloca no mesmo plano a proposta de crescimento do guaraná Antarctica no exterior e a de aumento das vendas no mercado doméstico, do qual é líder. Sua fatia é de 18% sobre um total de cerca de 11,5 bilhões de litros produzidos anualmente no país.
O guaraná Antarctica chegou a Portugal em julho deste ano por meio de uma parceria com a Pepsi-Cola. O extrato é produzido e distribuído lá pela Pepsi.
Em setembro último, a AmBev já havia superado a meta fixada para dezembro. O produto está em 12 mil pontos-de-venda em Portugal, sendo que a previsão era espalhar-se por 10 mil pontos até o final deste ano.
A projeção é a venda de 1,5 milhão de litros de guaraná em Portugal nos próximos cinco anos, informa a AmBev, que quer fazer daquele país a porta de entrada para o produto na Europa.
""As vendas em Portugal surpreenderam positivamente, o que nos leva a crer que a conquista de outros mercados será rápida. É esse cenário promissor que justifica os investimentos feitos pela empresa na Amazônia", diz Orlando Araujo, 74, químico e consultor da AmBev.
Segundo ele, que foi o inventor da fórmula diet do guaraná Antarctica e que chegou a Maués em 1950, a empresa está preocupada também com a produtividade do fruto na região, que é baixa devido à idade das plantas.

Os jornalistas Sebastião Nascimento e Eder Chiodetto viajaram a convite da AmBev.


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