São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000

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Além de importar US$ 200 milhões a mais de soja para substituir rações, europeus devem consumir mais frango

Brasil lucra com a vaca louca na Europa
Associated Press
"Nasci antes de 96, e eles querem me matar." É o que está escrito na faixa pendurada no lombo de animal durante protesto de pecuaristas contra a política do governo da França com relação à doença da vaca louca, na cidade de Bayone



FÁBIO EDUARDO MURAKAWA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fantasma que voltou recentemente a assombrar a população européia, a doença da vaca louca pode abrir novos horizontes para os exportadores brasileiros.
Dentre os que aqui esperam ser beneficiados com a crise no outro lado do Atlântico, estão os produtores de soja, que podem faturar cerca de US$ 200 milhões a mais já nesta safra.
Isso por conta da proibição, por parte dos países da Europa, do uso de rações de origem animal na pecuária local e sua substituição por farelo de soja.
Cientistas atribuem o alastramento da doença ao uso de rações feitas de vísceras de ovelhas contaminadas com a doença da vaca louca, também conhecida como BSE (veja quadro abaixo).
A principal opção a esse alimento seriam as rações de origem vegetal, cujas formulações incluem o farelo de soja.
As previsões para o próximo ano indicam um incremento de 2 milhões de t a 2,5 milhões de t nas importações européias do grão, de acordo com o economista Antonio Bueno, da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros).
O aumento na demanda mundial pelo farelo de soja, no entanto, pode ser ainda maior, caso outros países também resolvam banir a ração de origem animal.
O presidente da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), César Borges, acredita que o país deverá incrementar em, no mínimo, 1 milhão de t suas exportações para a Europa no próximo ano.
De acordo com ele, isso representaria um incremento de US$ 200 milhões na receita cambial.
A estimativa da Abiove é a de que as exportações brasileiras dos produtos do complexo soja (grão, farelo e óleo) atinjam US$ 4 bilhões este ano.
Em 2001, esse número deve crescer para US$ 4,5 bilhões, por conta, além da vaca louca, "do aumento da produção agrícola e das exportações do grão".
"As perspectivas são muito boas", diz o economista Fernando Homem de Melo, da Fipe/USP.
Segundo ele, a doença da vaca louca veio a compensar eventos desfavoráveis, como a desvalorização do euro, que teve reflexos negativos nas exportações.
Homem de Melo diz ainda que outros produtos brasileiros de exportação podem ser beneficiados, caso da carne de frango.
Nisso também acredita o presidente da APA (Associação Paulista de Avicultura), Célio Terra. "Se o consumidor está assustado com a carne vermelha, vai procurar outra alternativa", diz.
Mas o setor ainda não tem uma estimativa a respeito do provável crescimento das vendas.
Esse fato, no entanto, já pôde ser sentido nos últimos dias na Europa, onde os preços da carne de frango dispararam.
O aumento da demanda do consumidor no continente fez as cotações do produto aumentarem 20% desde o início da crise.


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