São Paulo, Terça-feira, 11 de Maio de 1999
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COLÔNIA
Fortuna das casas grandes foi feita com a opressão das senzalas
Cana-de-açúcar dominou o Nordeste por quatro séculos

BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha

Trazida ao Brasil por Martim Afonso de Souza, em 1532, a cana-de-açúcar predominou durante quatro séculos e deixou marcas profundas na estrutura fundiária do país.
"A indústria do açúcar foi construída à base do trabalho escravo e da grande propriedade", diz o historiador Evaldo Cabral de Mello.
Para Vera Lúcia Amaral, professora de história do Brasil da Universidade de São Paulo, a economia açucareira no período colonial ajuda a entender o atraso do Nordeste de hoje.
"Algumas características daquela época ainda prevalecem na região, como o monopólio da terra pelos grandes proprietários."
A história do açúcar no Brasil envolve não apenas portugueses e brasileiros, como holandeses, negros e judeus.
Do engenho São Jorge dos Erasmos, em São Vicente, a cana se espalhou por todas as capitanias. Mas foi nas faixas litorâneas no Nordeste, principalmente em Pernambuco e na Bahia, que a cultura encontrou as condições ideais para a sua expansão.

Solo fértil
O massapê, terra preta e pegajosa que se estende do Recôncavo Baiano ao Rio Grande do Norte, mostrou-se excelente para o plantio.
"A terra aqui é pegajenta e melada. Agarra-se ao homem com modos de garanhona. Mas ao mesmo tempo parece sentir gosto em ser pisada e ferida pelos pés da gente, pelas patas dos bois e dos cavalos. Deixa docemente marcar até pelo pé de um menino que corra brincando, empinando um papagaio; até pelas rodas de um cabriolé velho que vá aos solavancos de um engenho de fogo-morto a uma estação da Great Western", descreve o sociólogo Gilberto Freyre, autor de várias obras sobre os engenhos do Nordeste.
Nos solos férteis do massapê, com capital de flamengos (holandeses), italianos e cristãos-novos portugueses (judeus que se converteram ao catolicismo para escapar à perseguição da Inquisição na Europa) e mão-de-obra escrava começa, por volta de 1750, o primeiro grande surto açucareiro no Nordeste.
Durante o século 17 e a maior parte do século 18 o Brasil foi o maior fornecedor mundial de açúcar. Os engenhos brasileiros produziam cerca de 75 mil t/ano.
Nessa época, o mercado de açúcar na Europa estava em franca expansão, mas quem dava as cartas eram os grandes importadores.
"Amsterdã, Londres, Hamburgo, Gênova exerciam grande poder na fixação dos preços, por maiores que fossem os esforços de Portugal no sentido de monopolizar o produto mais rentável de sua colônia americana", explica Bóris Fausto, em "História do Brasil".


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