São Paulo, Terça-feira, 11 de Maio de 1999
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"História de mesas cobertas de prata e louça fina"

da Redação

A fortuna do açúcar deu aos senhores de engenho um considerável poder econômico, social e político na vida da Colônia.
Essa opulência é retratada por Gilberto Freyre em "Casa Grande e Senzala".
"História de jantares comidos a garfo, requintado instrumento ainda tão pouco em uso nas cortes européias. De mesas cobertas de prata e de louça fina. De camas forradas com riquíssimas colchas de seda. De portas com fechaduras de ouro. De senhoras cobertas de pedras preciosas."

Casa grande e senzala
O luxo na casa grande foi sustentado pela opressão da senzala.
Nas décadas de 1550 e 1560, relata Boris Fausto, quase não havia africanos nos engenhos do Nordeste. A mão-de-obra praticamente era constituída por escravos índios.
O desenvolvimento da indústria açucareira acelerou o tráfico de escravos da África.
Com base em registros de jesuítas e beneditinos, estima-se que um grande engenho, que produzia 10 mil arrobas de açúcar branco por ano, teria cerca de 200 escravos, diz a historiadora Vera Lúcia Amaral.
"Os escravos são as mãos e os pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda (riqueza), nem ter engenho corrente", justificava um cronista da época, o jesuíta e proprietário de engenho André João Antonil, em "Cultura e Opulência do Brasil", publicação licenciada pelo Santo Ofício em 1710.
O açúcar foi o estopim da invasão holandesa em Pernambuco (1630).
O comércio do açúcar brasileiro na Europa estava nas mãos dos holandeses, que foram prejudicados com a união das coroas ibéricas (Portugal e Espanha) no período entre 1580 e 1640.
Nessa época, Espanha e Holanda estavam em guerra.
Omer Mont'Alegre, no livro "Açúcar e Capital", conta que foram os holandeses então instalados no Brasil que convenceram os agricultores ingleses que operavam nas Antilhas a cultivar a cana-de-açúcar.
"Mudas retiradas do Brasil serviram para a formação dos primeiros canaviais, informações sobre processos e práticas agrícolas, fornecimento de engenhos completos", relata o autor.
A partir daí, o açúcar brasileiro na Europa passou a enfrentar a forte concorrência da produção das Antilhas.

Napoleão e a beterraba
No início do século 19, o conflito entre a França e a Inglaterra desfechou mais um duro golpe ao comércio do açúcar brasileiro.
Napoleão ordenou o bloqueio contra os navios de todos os países que negociavam com a Inglaterra, impedindo o desembarque do açúcar brasileiro nos portos europeus.
Por essa época também o químico prussiano André Sigismundo Marggraf, com o apoio de Napoleão, começou a desenvolver experiências para a extração de açúcar da beterraba.
Anos mais tarde, o açúcar da beterraba invadiu o mercado europeu. Em 1840, o açúcar de cana dominava 90% do mercado mundial. Em 1880, a produção de açúcar de beterraba alcançava a de açúcar de cana. (BB)




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