São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2000

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FLORESTA

Treetap, um tecido emborrachado, é opção para índios e seringueiros

Couro vegetal da Amazônia faz bolsa de grife francesa

DA AGÊNCIA FOLHA

O couro vegetal une empresários, seringueiros e índios caxinauá. É o Projeto Couro Vegetal da Amazônia, que reuniu a empresa Couro Vegetal da Amazônia S.A., o Instituto Nawa para o Desenvolvimento do Extrativismo Sustentável na Amazônia e três associações de produtores.
Desde 1991, esse grupo trabalha no aprimoramento do artesanato tradicional do seringueiro da Amazônia.
Entre os produtores estão 220 famílias da tribo caxinauá, que vivem próximo ao rio Jordão, além de seringueiros da reserva do Alto Juruá e da floresta nacional Mapiá-Inauiní.
Com o emprego da tecnologia, a borracha nativa foi tratada para atingir melhor padrão de qualidade. Com isso, chegou-se ao treetap, um tecido emborrachado com látex natural vulcanizado, utilizado na fabricação de bolsas, mochilas, pastas, artigos de vestuário, calçados, encadernações e revestimentos.
Essa iniciativa foi dos empresários cariocas Maria Beatriz Saldanha Tavares e João Augusto Fortes. Para Beatriz, o principal desafio é fazer da produção do treetap uma alternativa econômica às populações seringueiras.
"A produção do treetap contribui para a valorização de culturas tradicionais e para a preservação e uso sustentável da biodiversidade, das terras indígenas e das reservas extrativistas", diz a empresária.
Segundo ela, o pneu verde e o couro vegetal são exemplos de como se pode vender a borracha de forma diferenciada, agregando a esses produtos valores culturais e ecológicos.
"Em 1998, fechamos um contrato de dez anos com a grife francesa Hermès Sellier para fornecer o treetap. O produto chega para eles com tamanho, textura e coloração diferentes. Isso porque, originalmente, ele varia de matizes, que vão do castanho claro ao marrom café", afirmou a empresária.

Bolsa da Hermès
A Hermès foi fundada em 1837, originalmente, para a fabricação de produtos de montaria. Em seguida, passou a confeccionar bolsas e roupas de luxo.
Há dois anos, a empresa francesa encomendou 5.000 lâminas (85 cm x 65 cm).
Este ano, esse número subiu para 50 mil, 80% delas são usadas na confecção da bolsa Gardene, verdadeira febre de consumo em Paris. Em breve, a encomenda será de 80 mil.
"Pagamos de R$ 6 a R$ 12 por lâmina produzida. Cada uma delas consome 800 gramas de borracha. Em contrapartida, o quilo da borracha é comercializado no Acre a R$ 1,50", diz Beatriz.
Para viabilizar o empreendimento Couro Vegetal (pesquisa, implementação de unidades produtoras, cursos de capacitação), o projeto já consumiu US$ 2 milhões. Metade desse investimento veio de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
"O primeiro retorno veio no ano passado. Nosso lucro foi de R$ 24 mil. Os valores no acordo com a Hermès, não são mencionáveis".
Os produtos confeccionados com o treetap estão à venda pela Internet e em pelo menos quatro lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo. (ADL E EDS)

Na Internet: www.treetap.com.br


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