São Paulo, Terça-feira, 16 de Novembro de 1999 |
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SAÚDE Documento que recomenda alimento para prevenção de doenças cardíacas deve estimular consumo Soja faz bem ao coração, atesta FDA
BRUNO BLECHER Editor do Agrofolha Que a soja é um alimento saudável os chineses e os japoneses já sabem há milênios. Mas agora a leguminosa vai ganhar respeito também no Ocidente. Um documento do FDA (agência dos EUA que regulamenta os remédios e os alimentos), divulgado no último dia 20 de outubro, reconheceu que o consumo de proteínas de soja (25 gramas diárias) contribui para a prevenção de doenças cardíacas e pode reduzir o nível de colesterol no sangue. O FDA foi mais longe: autorizou as empresas que produzem alimentos à base de soja a indicar esses benefícios no rótulo. Bastou o sinal verde da agência para as indústrias de alimentos dos EUA rechearem as páginas de jornais e revistas com anúncios de hambúrgueres, shakes, cereais e biscoitos, todos feitos com soja. "Agora é oficial. Soja é saudável para o coração", proclamava a Boca Burger, uma empresa que produz hambúrguer vegetal, em anúncio de página inteira publicado, no dia 25 de outubro, no USA Today, o jornal de maior circulação nos EUA. Para utilizar o "health claim" (a indicação de que o produto traz benefícios à saúde), os alimentos devem conter pelo menos 6,25 g de proteína de soja, além de baixos teores de gordura saturada. Com a resolução, o FDA referendou estudos que vêm sendo conduzidos desde a década de 70. Um deles, do cientista James Anderson, da Universidade de Kentucky (EUA), concluiu que a proteína de soja não apenas reduz o teor médio de colesterol no sangue como também altera o seu perfil, diminuindo o "mau" colesterol (LDL) e aumentando o "bom" (HDL). Outros trabalhos indicam ainda que um fitormônio presente na soja, o isoflavonóide, favorece as artérias, tornando-as mais flexíveis e contribuindo para a prevenção da aterosclerose. Oportunidades A resolução do FDA pode trazer oportunidades de negócios para o Brasil, segundo maior produtor de soja do mundo. "A notícia pode ter um efeito multiplicador e até provocar uma mudança nos hábitos alimentares", diz Cesar Borges de Sousa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove). Por aqui, a soja ainda é vista como comida para o gado ou como um ingrediente empregado pela indústria alimentícia para dar textura a produtos como biscoitos e salsichas e reduzir custos. Dos 30,5 milhões de t de grãos que o país colheu nesta safra, 9,5 milhões de t foram exportados. A maior parte da soja que fica por aqui é destinada à produção de óleo e de ração animal. "Apenas 1% da safra vai para o consumo humano direto", diz José Zilio, diretor da Ceval. Para ele, o aval do FDA deve aumentar a demanda por alimentos feitos com soja, inclusive no mercado interno, embora o "health claim" não tenha validade no Brasil. "Há vários produtos que podem ser desenvolvidos, como achocolatados, derivados de carne magra (peito de peru, presunto, frangos), lácteos (iogurtes e tofus) e barras dietéticas." No mercado externo, acrescenta Zilio, o Brasil pode aumentar a exportação de proteínas de soja (isoladas, concentradas e texturizadas), de maior valor agregado. "A proteína isolada de soja vale cerca de US$ 2.500/t no mercado internacional, enquanto a exportação de grãos rende apenas US$ 200/t", diz ele. Este ano, as exportações de soja e derivados devem render ao país US$ 3,7 bilhões. Transgênicos Os benefícios da soja à saúde podem ajudar a resgatar a imagem do produto na Europa, abalada após a introdução das plantas geneticamente modificadas nos EUA e na Argentina. O lobby dos grupos ambientalistas faz muito barulho nos países europeus e já conseguiu convencer muitos consumidores a rejeitar alimentos produzidos a partir da soja transgênica. Como consequência, várias indústrias de alimentos e supermercados da Europa passaram a recusar esses produtos. "O Brasil deveria adiar a introdução da soja transgênica. Somos o único produtor do mundo que ainda não tem soja transgênica e podemos tirar proveito disso", diz José Zilio. É uma estratégia inteligente. O consumidor europeu, que sempre se preocupou com a saúde, também pode ser influenciado pela recomendação do FDA em relação à soja. E só o Brasil tem a soja não-transgênica para atender um eventual aumento do consumo do alimento na Europa. Próximo Texto: Pesquisas apontam outros benefícios Índice |
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