São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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LARANJA
Cinco mil homens vão tentar localizar novos focos da doença sem cura
Guerra ao cancro cítrico mobiliza até o Exército

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local

Uma megaoperação envolvendo R$ 30 milhões e 5.000 homens está sendo montada no interior de São Paulo para conter a disseminação do cancro cítrico, o pior inimigo dos pomares brasileiros.
Técnicos do Fundecitrus (Fundo Paulista de Defesa da Citricultura) e da Secretaria da Agricultura paulista vão realizar no começo do mês que vem a maior varredura já feita em pomares do país, para identificar e erradicar plantas contaminadas pela doença em 330 municípios que têm a laranja como principal fonte de renda.
Sem cura, o cancro cítrico, causado por uma bactéria, já provocou prejuízos de US$ 500 milhões na citricultura, segunda cultura mais importante do Estado, que gera 400 mil empregos e movimenta US$ 1,5 bilhão com exportações.
O dinheiro perdido com o cancro, que poderia ser aplicado na modernização do parque citrícola, é suficiente, por exemplo, para comprar cerca de 25 mil tratores New Holland, ou 355 milhões de mudas isentas de doenças.
Mas um problema grave ainda persiste. Há 19 milhões de pés de laranja abandonados pelo interior paulista e que concentram focos de diversas doenças (entre elas o cancro cítrico), disseminando-as.
O Ministério da Agricultura se comprometeu a liberar R$ 50 milhões para erradicar esses focos e ainda estabelecer barreiras fitossanitárias no Estado para controlar o trânsito vegetal e ainda barreiras móveis para impedir a venda de mudas contaminadas.
A liberação dos recursos, porém, está a cargo do Ministério da Fazenda, mas ninguém do governo sabe informar ao certo quando a verba chegará à citricultura.
Enquanto isso, cerca de 750 técnicos do Fundecitrus e da Secretaria da Agricultura paulista estão trabalhando com prefeituras de diversos municípios citrícolas, seguindo um modelo de erradicação em pomares domésticos aplicado nos EUA.
Há cerca de 15 dias, até um batalhão de 120 homens do Tiro de Guerra de Olímpia entrou no combate ao cancro cítrico.
Depois de serem treinados pelo Fundecitrus, atendendo a um pedido da prefeitura local, os soldados foram inspecionar pomares domésticos na periferia da cidade.
Encontraram 23 focos da doença. O trabalho estava programado para voltar a acontecer no último final de semana, mas foi suspenso pelo comando do Exército, em São Paulo, que quer saber detalhes da operação para voltar a liberá-la.
"O que está em jogo é a citricultura brasileira", diz Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, uma das mais importantes regiões produtoras de laranja no país.
Uma nova frente de combate será estendida esta semana a donos de barracões. Após a colheita, a laranja fica em barracões, chamados "packing-house", antes de seguir para supermercados e feiras. Muitas vezes, as frutas descartadas para o consumo são abandonadas em beiras de estradas, colaborando para a propagação da doença.


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