São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2001

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Algumas fazendas da região de São Carlos, no interior de São Paulo, estão substituindo as vacas holandesas pelas búfalas para reduzir os custos de produção e obter mais lucro com o leite

Leite de búfala

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Búfalas pastam na fazenda Santa Madalena, em São Carlos (SP)


SEBASTIÃO NASCIMENTO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS

Para reduzir os custos de produção do leite, oito pecuaristas estão trocando o gado holandês por búfalo na região de São Carlos (231 km a noroeste de São Paulo).
Lúcia Helena Manelli Rizzolli, quarta maior produtora da cooperativa local, com cerca de 28 mil litros ao mês, está substituindo 48 holandesas em lactação pelas búfalas. Elas já são 12 no plantel, e a fazendeira pretende chegar a 50.
Na fazenda Santa Madalena, que fica em uma região montanhosa, a 15 km da zona urbana, Lúcia Helena trabalha com o gado holandês desde 1985.
""Estou no limite, empatando custos e remuneração ao final do mês. Para permanecer na atividade, resolvi apostar no búfalo, mais rústico e cujo leite tem mais proteína do que o do holandês."
Ela reconhece que o holandês é mais produtivo. "Dá mais leite, mas as despesas com alimentação e medicamentos são altas."
Ela vai liquidar o seu plantel de holandês no próximo sábado.
A experiência em São Carlos é conduzida pela cooperativa de laticínios, sob supervisão de professores da USP (Universidade de São Paulo), da Unesp de Botucatu e de Jaboticabal e do IEA (Instituto de Economia Agrícola).
Lúcia Helena explica que, por ter mais gordura e proteína do que o do gado holandês, o leite da búfala, usado exclusivamente na fabricação de produtos derivados, como o queijo mussarela, tem um preço mais alto.
A cooperativa paga entre R$ 0,60 e R$ 0,70 pelo litro. O leite de vaca, quando tem mais qualidade, vale R$ 0,40/litro, diz Francisco Pereira Lopes, presidente da cooperativa, que também trocou o holandês pelo búfalo.
A fazendeira afirma que os custos de produção de um litro de leite da búfala ficam abaixo da metade do valor pago pela cooperativa. ""No caso do leite da vaca, mesmo considerando que o preço ao produtor hoje não é ruim, o custo representa mais de 90%."
Outra vantagem, segundo ela, é o fato de o pecuarista não precisar conviver com a variação do preço do leite, que oscila conforme a época do ano. Isso não ocorre com o leite de búfala, cuja remuneração é estável devido à boa demanda pelos produtos derivados e à pouca oferta do mercado.
As búfalas da fazenda dão uma média de 8 kg de leite ao dia. As holandesas dão 20 kg ao dia.
Para o professor Alcides Amorim Ramos, que há 30 anos estuda bubalinocultura na Unesp de Botucatu, o leite da búfala agrega valor. ""Ele não é empacotado como o da vaca, mas sim industrializado para a produção de mussarela. Em São Paulo, o consumidor paga R$ 27/kg pelo queijo da búfala, contra R$ 6/kg pelo da vaca."
O professor concorda que a búfala é uma boa opção para as condições de leite a pasto.
""Não há como comparar. A búfala é pouco exigente, enquanto a holandesa só é viável para as fazendas de alta tecnologia, que mesmo assim enfrentam dificuldades devido aos custos altos."
Lopes diz que há um ano a cooperativa recolhia 200 litros de leite de búfala de seus cooperados ao dia. Atualmente são 1.000 litros.
""Para fazer 1 kg de mussarela são necessários 5 kg de leite de búfala. A nossa produção diária de queijo é de 200 kg ao dia, e não conseguimos atender a procura."
Lopes diz que, no caso do leite da vaca, são usados 10 kg para a fabricação de 1 kg de mussarela.
O professor Ramos diz que é possível trabalhar com a holandesa e a búfala. ""O búfalo não acasala com os bovinos, o que elimina a possibilidade de conflito."



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