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FRUTOS DO MAR
Pesca predatória e aumento indiscriminado de barcos pesqueiros comprometem a atividade
Produção de lagosta cai 50% no país
ROBERTO DE OLIVEIRA
enviado especial à Bahia
A exploração predatória, somada ao atraso nos métodos de
pesca, artesanal em quase sua totalidade, fez a produção de lagosta brasileira despencar cerca de
50% nesta década.
Principal segmento pesqueiro
de exportação, praticada sobretudo de forma clandestina, a produção de lagosta chegou perto de
11 mil t, em 1991. Este ano, não
deve ultrapassar 5 mil t.
Assim como em outras temporadas, apenas 10% da produção
de lagosta deve ser abocanhada
pelo mercado interno, volume
considerado pífio. O restante será exportado, principalmente para os EUA, o maior consumidor
da lagosta brasileira.
Na metade desta década, as exportações de lagosta chegaram a
movimentar US$ 69 milhões, valor recorde. Este caiu para um faturamento médio de US$ 44 milhões nos dois últimos anos.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de lagosta espinhosa, atrás de Cuba e da Austrália. Devido a seus métodos arcaicos de pesca, a produção brasileira perde qualidade e, consequentemente, preço e mercado lá fora.
Só para ter uma idéia: a pesca
de lagosta gerou US$ 150 milhões
no ano passado para Cuba, com
uma produção de 10,5 mil t. O
Brasil produziu 5,5 mil t de lagosta e faturou US$ 41,7 milhões
com a exportação.
Estoque esgotado
Levantamento da UFC (Universidade Federal do Ceará) revela que a estrutura de embarcações de pesca está 240% acima do
necessário para o estoque de lagostas encontradas na costa.
Esse fato é preocupante, na opinião de especialistas, no que diz
respeito ao futuro do crustáceo e
também dos pescadores. Calcula-se que a lagosta gere cerca de
150 mil empregos diretos e indiretos, a grande maioria deles informal.
Estima-se que apenas 600 barcos dos 3.500 que formam a frota
pesqueira de lagosta estão com a
documentação em ordem.
Aquela clássica imagem da jangada à vela, à procura de lagosta
no mar, ainda compõe o cenário
desse tipo de pesca em diversas
regiões do Nordeste.
"Não houve modernização no
setor. A população pesqueira está envelhecendo sem ser renovada", diz Luís Tadeu Assad, 27, engenheiro de pesca, especialista
em lagosta, gestor da cadeia produtiva do crustáceo no Ministério da Agricultura.
A pesca da lagosta atravessa
um retrocesso no Nordeste brasileiro, na opinião do professor
Antonio Adauto Fonteles Filho,
55, especialista em lagosta do
Instituto de Ciências do Mar da
UFC, em Fortaleza (CE).
Os altos custos da pesca industrial, ao mesmo tempo que o número de pescadores aumentou e
a produtividade caiu, praticamente inviabilizaram o trabalho
das grandes embarcações.
Diante desse fato, o cenário da
pesca artesanal, com jangadas,
volta a tomar conta da costa.
Esse retrocesso não beneficiou
os pescadores. Estudo elaborado
pelo IDT (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico), do Ceará,
feito no ano passado com pescadores, revela que a renda média
mensal de cada um gira em torno
de R$ 105.
Para complicar ainda mais o
quadro, não foi possível obter
bons resultados com a criação de
lagosta em cativeiro.
De acordo com o professor da
UFC, enquanto o camarão criado
em cativeiro leva, em média, seis
meses para atingir o tamanho
ideal para o comércio (cerca de
12 centímetros), a lagosta levaria
dois anos para alcançar cerca de
15 centímetros, medida recomendada para o abate.
"Falta tecnologia voltada para a
fase larvar da lagosta", diz Assad.
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