São Paulo, Terça-feira, 27 de Julho de 1999
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FRUTOS DO MAR
Pesca predatória e aumento indiscriminado de barcos pesqueiros comprometem a atividade
Produção de lagosta cai 50% no país

ROBERTO DE OLIVEIRA
enviado especial à Bahia

A exploração predatória, somada ao atraso nos métodos de pesca, artesanal em quase sua totalidade, fez a produção de lagosta brasileira despencar cerca de 50% nesta década.
Principal segmento pesqueiro de exportação, praticada sobretudo de forma clandestina, a produção de lagosta chegou perto de 11 mil t, em 1991. Este ano, não deve ultrapassar 5 mil t.
Assim como em outras temporadas, apenas 10% da produção de lagosta deve ser abocanhada pelo mercado interno, volume considerado pífio. O restante será exportado, principalmente para os EUA, o maior consumidor da lagosta brasileira.
Na metade desta década, as exportações de lagosta chegaram a movimentar US$ 69 milhões, valor recorde. Este caiu para um faturamento médio de US$ 44 milhões nos dois últimos anos.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de lagosta espinhosa, atrás de Cuba e da Austrália. Devido a seus métodos arcaicos de pesca, a produção brasileira perde qualidade e, consequentemente, preço e mercado lá fora.
Só para ter uma idéia: a pesca de lagosta gerou US$ 150 milhões no ano passado para Cuba, com uma produção de 10,5 mil t. O Brasil produziu 5,5 mil t de lagosta e faturou US$ 41,7 milhões com a exportação.

Estoque esgotado
Levantamento da UFC (Universidade Federal do Ceará) revela que a estrutura de embarcações de pesca está 240% acima do necessário para o estoque de lagostas encontradas na costa.
Esse fato é preocupante, na opinião de especialistas, no que diz respeito ao futuro do crustáceo e também dos pescadores. Calcula-se que a lagosta gere cerca de 150 mil empregos diretos e indiretos, a grande maioria deles informal.
Estima-se que apenas 600 barcos dos 3.500 que formam a frota pesqueira de lagosta estão com a documentação em ordem.
Aquela clássica imagem da jangada à vela, à procura de lagosta no mar, ainda compõe o cenário desse tipo de pesca em diversas regiões do Nordeste.
"Não houve modernização no setor. A população pesqueira está envelhecendo sem ser renovada", diz Luís Tadeu Assad, 27, engenheiro de pesca, especialista em lagosta, gestor da cadeia produtiva do crustáceo no Ministério da Agricultura.
A pesca da lagosta atravessa um retrocesso no Nordeste brasileiro, na opinião do professor Antonio Adauto Fonteles Filho, 55, especialista em lagosta do Instituto de Ciências do Mar da UFC, em Fortaleza (CE).
Os altos custos da pesca industrial, ao mesmo tempo que o número de pescadores aumentou e a produtividade caiu, praticamente inviabilizaram o trabalho das grandes embarcações.
Diante desse fato, o cenário da pesca artesanal, com jangadas, volta a tomar conta da costa.
Esse retrocesso não beneficiou os pescadores. Estudo elaborado pelo IDT (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico), do Ceará, feito no ano passado com pescadores, revela que a renda média mensal de cada um gira em torno de R$ 105.
Para complicar ainda mais o quadro, não foi possível obter bons resultados com a criação de lagosta em cativeiro.
De acordo com o professor da UFC, enquanto o camarão criado em cativeiro leva, em média, seis meses para atingir o tamanho ideal para o comércio (cerca de 12 centímetros), a lagosta levaria dois anos para alcançar cerca de 15 centímetros, medida recomendada para o abate.
"Falta tecnologia voltada para a fase larvar da lagosta", diz Assad.


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