São Paulo, Terça-feira, 29 de Dezembro de 1998
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ANO NOVO
Na mitologia do Irã, ela é considerada a fruta proibida da árvore sagrada
Lendas e mitos veneram a romã

da Reportagem Local

Nativa da Pérsia e domesticada no Irã há cerca de 2.000 anos a.C. (antes de Cristo), a romã despertou o interesse no Mediterrâneo, de onde foi distribuída a outros países, da Ásia às Américas. Chegou ao Brasil com os portugueses.
Segundo o sociólogo Carlos Alberto Dória, 48, estudioso da cultura da alimentação, para os povos antigos, como os gregos, os romanos e os persas, havia a concepção de que a romã era a ponte entre a mortalidade e a imortalidade.
"O homem apaixonado que comia a romã se tornaria imortal. Já um deus que a consumia se transformaria em um mortal", diz.
A fruta era tida como símbolo de amor e fertilidade por causa de suas numerosas sementes.
"A romã, que muitos acham sem graça e difícil de ser comida, sempre foi respeitada pelos poderosos. Reis e bispos a ostentavam nas suas vestes", diz Nina Horta.
Na mitologia grega, Perséfone, filha de Deméter e deusa da terra e da colheita, foi levada para o inferno por Hades, deus das profundezas. Jurou não comer nada no cativeiro. Mas não resistiu a uma romã. Comeu seis sementes.
Quando Hades afinal perdeu Perséfone para Deméter, teve a permissão de ficar com ela por seis meses de cada ano por causa das sementes. Esses seis meses se tornaram o inverno.
Nicolau Sevcenko, professor de história da cultura da USP, diz que na mitologia iraniana, o fruto desejado da árvore sagrada é a romã. E não a maçã, como foi difundido pela cultura ocidental.
"Na versão hebraica, há o Jardim do Éden e a serpente. Na versão greco-romana, há o Jardim das Hespérides e o dragão Ladon. No mito iraniano, o fruto desejado da árvore sagrada é a romã."

Uso terapêutico
As sementes secas da romã eram usadas como condimento pelos antigos e o seu suco como remédio até o Renascimento.
A fruta é cultivada em muitos países tropicais, no Líbano, no Paquistão e na Índia, entre outros.
No Oriente Médio, é usada concentrada em pratos salgados, como almôndegas e peixe recheado, e fresca em saladas, com berinjelas. Tem 32 calorias por 100 g e é muito rica em fósforo. Possui ainda propriedades terapêuticas e é usada na medicina popular.
O professor de botânica da Esalq/USP Walter Radamés Accorsi, 86, especialista em plantas medicinais, diz que o chá da casca de romã é indicado para o tratamento de problemas de garganta.


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