São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
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PESQUISA
Consumidor dá importância à embalagem do produto
Brasil não sabe se transgênico é algo para comer ou para calçar

FÁBIO EDUARDO MURAKAWA
free-lance para a Folha

Enquanto na Inglaterra associações de consumidores influenciam decisões do governo sobre a produção e a comercialização de produtos transgênicos, no Brasil a matéria ainda é ignorada.
"O brasileiro ainda não sabe se o produto transgênico é algo para comer ou para calçar."
As conclusões são da pesquisadora Rosires Deliza, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Doutorada em estudos do consumidor no Institute of Food Research, em Reading, na Inglaterra, Deliza pesquisou as motivações de ingleses e brasileiros no consumo de alimentos.
Transgênicos são produtos que têm sua estrutura genética modificada para que adquiram características diferentes.
"A diferença no nível de informação dos consumidores dos dois países é marcante", afirma.
No Brasil, diz, a informação "produto transgênico", combinada ao preço alto, foi às vezes interpretada como sinônimo de qualidade. "Ao ler uma palavra difícil em um rótulo de um produto caro, eles acharam que só por isso o produto era bom", afirma.
A pesquisadora inglesa Lynn Frewer, da Universidade de Bristol, que também participou do trabalho, diz em contrapartida que em seu país o debate sobre transgênicos ocorre abertamente há quase cinco anos.
"Lá, o consumidor sabe o que está comprando e tem uma opinião formada sobre esses produtos", diz a pesquisadora.
De uma maneira geral, diz ela, os transgênicos ainda são malvistos pelos ingleses.
"Além de desconhecer os efeitos que esses produtos podem ter no longo prazo, a população tornou-se muito descrente em relação ao governo e à ciência após a doença da vaca louca", afirma.
Frewer diz que as informações sobre os transgênicos têm muito mais credibilidade quando partem de associações de defesa do consumidor, sejam elas simpáticas ou não aos produtos.
Segundo ela, muitas grandes multinacionais do setor de alimentos, como a Nestlé, já estão retirando os transgênicos das prateleiras dos supermercados porque o consumidor, simplesmente, os rejeita.
Frewer, que esteve no Brasil na semana passada, fez também uma advertência aos fabricantes e produtores.
"O consumidor vai passar a comprar produtos transgênicos quando sentir que eles também lhe trazem vantagens e que não servem apenas para aumentar o lucro das empresas de biotecnologia e dos fazendeiros."
Para realizar o estudo, elas consultaram 165 pessoas na Inglaterra e no Brasil, verificando a influência da embalagem, da marca, do preço e das informações contidas nos rótulos dos produtos.
O trabalho as levou a algumas conclusões surpreendentes. Na Inglaterra, por exemplo, o quesito preço é mais decisivo na hora da compra do que no Brasil.
Já o consumidor brasileiro, apesar de estar desinformado, quer saber o que está comendo. Na hora da compra, além disso, ele leva muito em consideração a apresentação do produto.
Não é a primeira vez que Deliza verifica a importância da embalagem. "Em outro estudo, notei que a embalagem influencia até mesmo na percepção do gosto."



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