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PESQUISA
Consumidor dá importância à embalagem do produto
Brasil não sabe se transgênico é algo para comer ou para calçar
FÁBIO EDUARDO MURAKAWA
free-lance para a Folha
Enquanto na Inglaterra associações de consumidores influenciam decisões do governo sobre a
produção e a comercialização de
produtos transgênicos, no Brasil a
matéria ainda é ignorada.
"O brasileiro ainda não sabe se
o produto transgênico é algo para
comer ou para calçar."
As conclusões são da pesquisadora Rosires Deliza, da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária). Doutorada em estudos do consumidor no Institute
of Food Research, em Reading, na
Inglaterra, Deliza pesquisou as
motivações de ingleses e brasileiros no consumo de alimentos.
Transgênicos são produtos que
têm sua estrutura genética modificada para que adquiram características diferentes.
"A diferença no nível de informação dos consumidores dos
dois países é marcante", afirma.
No Brasil, diz, a informação
"produto transgênico", combinada ao preço alto, foi às vezes interpretada como sinônimo de qualidade. "Ao ler uma palavra difícil
em um rótulo de um produto caro, eles acharam que só por isso o
produto era bom", afirma.
A pesquisadora inglesa Lynn
Frewer, da Universidade de Bristol, que também participou do
trabalho, diz em contrapartida
que em seu país o debate sobre
transgênicos ocorre abertamente
há quase cinco anos.
"Lá, o consumidor sabe o que
está comprando e tem uma opinião formada sobre esses produtos", diz a pesquisadora.
De uma maneira geral, diz ela,
os transgênicos ainda são malvistos pelos ingleses.
"Além de desconhecer os efeitos
que esses produtos podem ter no
longo prazo, a população tornou-se muito descrente em relação ao
governo e à ciência após a doença
da vaca louca", afirma.
Frewer diz que as informações
sobre os transgênicos têm muito
mais credibilidade quando partem de associações de defesa do
consumidor, sejam elas simpáticas ou não aos produtos.
Segundo ela, muitas grandes
multinacionais do setor de alimentos, como a Nestlé, já estão
retirando os transgênicos das prateleiras dos supermercados porque o consumidor, simplesmente, os rejeita.
Frewer, que esteve no Brasil na
semana passada, fez também
uma advertência aos fabricantes e
produtores.
"O consumidor vai passar a
comprar produtos transgênicos
quando sentir que eles também
lhe trazem vantagens e que não
servem apenas para aumentar o
lucro das empresas de biotecnologia e dos fazendeiros."
Para realizar o estudo, elas consultaram 165 pessoas na Inglaterra e no Brasil, verificando a influência da embalagem, da marca,
do preço e das informações contidas nos rótulos dos produtos.
O trabalho as levou a algumas
conclusões surpreendentes. Na
Inglaterra, por exemplo, o quesito
preço é mais decisivo na hora da
compra do que no Brasil.
Já o consumidor brasileiro, apesar de estar desinformado, quer
saber o que está comendo. Na hora da compra, além disso, ele leva
muito em consideração a apresentação do produto.
Não é a primeira vez que Deliza
verifica a importância da embalagem. "Em outro estudo, notei que
a embalagem influencia até mesmo na percepção do gosto."
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