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FÉ NO VOTO
Pastores e "obreiros" da Quadrangular escolhem nomes que receberão apoio em campanhas
Igreja faz prévias para indicar candidatos
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Igreja do Evangelho Quadrangular, de origem pentecostal que, segundo o Censo 2000,
reunia naquele ano 1.318.805
fiéis no país, as eleições de 2006
começaram no início de 2005.
Como a Igreja Universal do
Reino de Deus e a Assembléia de
Deus, a Quadrangular indica
candidatos a deputado federal e
estadual para seus seguidores e
orienta o seu voto, com uma diferença: os nomes, em cada Estado, não são impostos pela cúpula da organização, mas escolhidos -a partir da apresentação
de pré-candidaturas- pelo voto
secreto de pastores e "obreiros".
O processo de prévias, que já
havia ocorrido em 2001, se tornou mais rigoroso no ano passado, diz o deputado federal Jefferson Campos (PTB-SP), um dos
coordenadores políticos da igreja e que, pretendendo concorrer
à reeleição, apresentou seu nome para a disputa em São Paulo.
Venceu com 63,1% dos votos
no Estado, seguido pelos também pastores Jaime Caputti
(20,4%) e Armando Bittencourt
(14,6%). Há uma racionalidade
clara, diz Campos, por trás do
processo que, segundo ele, ajuda
a igreja e torna mais efetiva a indicação de nomes: "A vantagem
da prévia é que você não tem
contestação quanto ao candidato; ele foi escolhido pela base".
O deputado diz que, antes das
prévias, já aconteceu de indicados pela direção da igreja não
passarem pelo crivo do conjunto
dos pastores, não receberem
apoio nem se elegerem. Nas eleições de 2002 e 2004, diz, "nenhum pastor colocou um deputado estranho no púlpito".
A lógica continua: votam só os
pastores titulares de cada igreja
específica e os auxiliares com dedicação exclusiva -em São
Paulo, isso corresponde a um
colégio de cerca de 3.500 pessoas; "restringimos porque são
os que efetivamente estão envolvidos no dia-a-dia da igreja"-
em candidatos, também pastores, obrigados a mostrar documentos para "provar idoneidade", entre eles comprovantes de
nenhuma ocorrência criminal e
"certidão negativa do SPC [Serviço de Proteção ao Crédito]".
Quem vence tem os fiéis de um
Estado inteiro como reduto eleitoral a seu dispor. A Quadrangular lança um candidato a deputado federal e outro a estadual em
todas as unidades da Federação,
exceto Minas Gerais, onde há
dois postulantes para cada um.
O pastor Jaime Caputti resolveu disputar a candidatura por
São Paulo para a vaga federal no
início de 2005. Vice-prefeito, em
segundo mandato, de Agudos
(SP), ele diz que queria ser deputado para realizar no país o mesmo trabalho de "libertação" que
realiza em seu município.
"Há muitas coisas que estão
amarrando a nossa nação. Isso é
conseqüência do que acontece
no mundo espiritual." Chamado
a dar exemplos, diz: "Pecados no
passado, como a escravidão. Como autoridade, poderíamos
guerrear no nível espiritual".
Passou os primeiros meses do
ano passado nessa empreitada,
mas foi derrotado por Campos
nas prévias do Estado. Promete
agora apoio ao deputado.
Para participar do processo,
ele diz, há algum custo, já que cabe ao próprio pré-candidato o
custeio de viagens para fazer
campanha com os pastores. Isso
é compensado, afirma Campos,
na campanha do ano seguinte,
quando o fato de contar com os
votos da igreja diminui os custos
de campanha. "Não dependo de
grupos financeiros", declara.
Com três deputados federais, a
Quadrangular acredita que pode
fazer dez representantes na Câmara nestas eleições.
O mandato, diz Campos, é "ligado diretamente à igreja". Uma
de suas preocupações centrais é
a defesa de temas "éticos e doutrinários", como o combate ao
aborto e ao homossexualismo.
O deputado estadual Waldir
Agnello (PTB-SP), também candidato à reeleição e vencedor da
prévia da Quadrangular com
65,3% dos votos, diz "não ter dúvidas" de que a representação
evangélica nas assembléias do
país vai crescer. "Até por conta
desse cenário de insatisfação."
No terceiro domingo de dezembro, Agnello e Campos visitaram uma igreja da Quadrangular em Sorocaba (SP). Naquela manhã, o deputado já havia
falado para fiéis em São José dos
Campos (SP) e visitaria outras
duas igrejas na mesma noite.
Ao final de uma celebração,
Campos subiu ao púlpito. "Está
aqui conosco o pastor Waldir
Agnello. Ele é nosso deputado
estadual. Quantos ainda não o
conhecem? Levantem a mão."
Um terço da igreja manifestou
desconhecer o político. "Esse é o
nosso brilhante deputado estadual que hoje veio pregar a palavra", continuou Campos.
Agnello assume o microfone:
"Em Brasília há uma deputada
que apresentou um projeto e
que trabalha com um empenho
muito grande para que se libere
de uma vez o aborto". E segue:
"Conseguimos realizar uma mobilização, a ponto de [o projeto]
não ser votado neste ano". Palmas. "Amém", dizem alguns.
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