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ELIO GASPARI
Voto nulo é coisa séria
Voto nulo . É aí que mora o
perigo de 2006. Depois do massacre do "mensalão", das arcas delúbias e das pizzas, o eleitor nutre
um desejo secreto de chutar o pau
da barraca no dia 1º de outubro.
Vai à urna, anula o voto, faz uma
careta e usufrui o que sobrar do domingo da desforra. Ninguém tem
nada que se meter no voto dos outros, mas a decisão ficará mais rica
(ou pobre) medindo-se o alcance
desse gesto. Quem anula o voto numa eleição majoritária (presidente,
governador e senador) protesta e
não beneficia ninguém. Quem anula o voto no pleito proporcional (deputado federal e estadual) pode
beneficiar o tipo de político que
pretende punir. Se todas as pessoas
que ficaram indignadas com o
"mensalão" anularem seus votos
(ou votarem em branco), o resultado será a eleição de um Congresso
mensalista.
Em 2002, "nosso guia" se elegeu
com um bonito resultado. A soma
dos votos em branco e nulos ficou
em 5,5 milhões (6%). Em 1998,
quando FFHH venceu, os brancos e
nulos chegaram a 15,5 milhões, ou
18,6% do eleitorado, um número feio,
prenúncio de um certo horror ao
tucanato.
Admita-se que a eleição deste ano
fique parecida com a de 1998, com
um aumento nos votos nulos de
10,6% para 20%. Para isso seriam necessários mais de 15 milhões de votos.
Nesse caso, a soma da abstenção, dos
votos em branco e dos nulos passará
dos 50%. Número ruim, parecido
com o absenteísmo das últimas eleições americanas, nas quais o voto é
facultativo. Essas contas são apenas
um exercício, pois a Constituição determina que se dê posse ao candidato
que tiver metade dos votos válidos,
mais um.
É no efeito do voto nulo na eleição
proporcional que se esconde o Tinhoso. Na eleição majoritária, o protesto
é frontal, efetivo e neutro. Desdenha a
opção oferecida pela máquina, mas
não favorece outros candidatos.
Quem anula o voto majoritário ausenta-se da escolha conhecendo todas
as variáveis da questão.
Na eleição para a Câmara, o efeito
é muito outro. (Vale lembrar que se
pode anular o voto para presidente
sem anular o voto para o Congresso.)
Quem anula o voto proporcional não
tem como saber a conseqüência da
sua decisão. Imagine-se um eleitor de
2002. Ele decidiu não votar em Lula
nem em Serra. Tudo bem. Anulando
o voto proporcional, pode ter favorecido a eleição de um Severino Cavalcanti. Nesse caso, a justificativa do
"tanto faz" não funciona com a mesma precisão. Uma coisa é ficar indiferente a uma escolha Lula-Serra. Outra é mostrar a mesma indiferença
num dilema imperceptível na hora
da eleição. O voto negado a Abraham
Lincoln pode contribuir para a eleição de Severino.
Ao contrário do que pode parecer,
voto nulo é coisa muito séria. Tão
séria que não deve ser considerada
estúpida.
Bevilaqua foi para
a luz do sol
Aconteceu uma coisa boa, o
diretor de política econômica
do Banco Central, doutor
Afonso Bevilaqua, saiu da
clandestinidade e apareceu
na vitrine de Brasília explicando a ruína que coordena.
Ele é, de longe, a personalidade mais forte da mesa do Copom. Discreto, nem biografia
na página da instituição tem.
O professor Bevilaqua doutorou-se na Universidade da
Califórnia, em Berkeley, e
chegou ao BC depois de uma
profícua carreira no Departamento de Economia da PUC
do Rio de Janeiro. Desde a
fundação da Sorbonne em
1253, nenhuma equipe de professores de instituição de ensino superior produziu tantos
banqueiros bem-sucedidos
como a PUC carioca.
Como ensinou o juiz Louis
Brandeis, "a luz do sol é o melhor desinfetante". Se Bevilaqua sair da sombra, todo
mundo ganha.
Em outubro de 2002, quando Lula pedia votos atacando
a política de juros do BC, Bevilaqua disse que o companheiro dava "sua contribuição ao festival de disparates
econômicos". Em maio de
2003, "nosso guia" colocou-o
na diretoria do Banco Central, unificando a produção
de disparates.
UniLula 1
Depois de inovar a história
("quando Napoleão foi à China...") e a genética ("minha
mãe nasceu analfabeta"),
"nosso guia" revolucionou a
matemática: "Eu acho que,
crescendo o Brasil, crescem
os Estados, crescendo os Estados, crescem os municípios". Dentro da Teoria Lulocêntrica do Universo, a ordem do produto altera os fatores. Ele acha que um dia o
Brasil crescerá porque ele é
presidente. O que aconteceu
no terceiro trimestre de 2005
foi uma curva fora do ponto.
UniLula 2
Referindo-se às delinqüências-companheiras, "nosso
guia" disse o seguinte ao repórter Pedro Bial: "Não interessa se foi A, B ou C. Todo o
episódio foi uma facada nas
minhas costas". Há em Pindorama cerca de 350 mil pessoas encarceradas pela prática dos mais diversos delitos.
Tudo o que eles querem é
usufruir do carinho com que
o jurisconsulto Lula protege
seus correligionários: "Não
interessa se foi A, B ou C".
A marca de Bento
De um observador da cena
do Vaticano: o pontificado de
Bento 16 poderá ser marcado
por uma aproximação com
os judeus, com os ortodoxos
e com os anglicanos. Acredito que ele reduza o poder da
Secretaria de Estado e fortaleça as congregações em que
está dividida a Santa Sé. Acima de tudo, poderá ocorrer o
fortalecimento da Congregação para a Doutrina da Fé,
que ele chefiou durante 23
anos. Ao final do pontificado
de João Paulo 2º, a igreja era
dirigida pela Secretaria de Estado, uma espécie de Casa Civil do Vaticano. A falta de referência à América Latina
não foi esquecimento.
Caixa tucana
O tucanato continua acreditando que o Padre Eterno concedeu-lhe um habeas caixa. Por
maiores que sejam os prenúncios de denúncias das malfeitorias cometidas nas campanhas
de 2002, 1998 e 1994, os grão-senhores fingem que o problema não existe. O PT, inebriado
com a vitória de 2002, teve a
mesma ilusão. Quando a panela for destampada, dirão que
tudo não passa de denuncismo
de ano eleitoral. Mentira.
Nome de 2006
Após as férias, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo
Tribunal Federal, assumirá a
presidência do Tribunal Superior Eleitoral. À primeira vista,
será apenas uma movimentação burocrática. Há fortes indicações de que irá para a cadeira
disposto a mudar os co$tume$
das eleições nacionais. Quem
sabe ele ajuda a derrubar a tradição dos depósitos de dinheiro, estimulando o povoamento
dos depósitos de presos.
Sábio lapso
O senador Tasso Jereissati cometeu um lapso verbal e criou
uma expressão típica da época.
Referia-se ao rolo compressor
usado pelo PT em algumas votações e reclamou da "tropa de
cheque". Bons tempos aqueles
em que o governo se protegia
com uma tropa de choque.
Não confere
Cerca de 50 deputados já anunciaram pelos jornais sua disposição de não embolsar os
R$ 25,7 mil da convocação extraordinária do Congresso. Alguns deles se esqueceram de
tomar a mesma providência
junto à Diretoria Geral da Casa.
Enquanto não assinarem o ofício formalizando a devolução,
faturam duas vezes. Numa, lesam a Viúva. Noutra, a patuléia
crédula.
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