São Paulo, Terça-feira, 01 de Fevereiro de 2000


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JANIO DE FREITAS
O nome do ato

Em qualquer país com "elite" dotada de caráter, os irmãos Villas Bôas seriam cercados sempre de todas as homenagens e cultuados como grandes heróis da nação. Suas vidas foram de grandeza excepcional, rara em qualquer parte do mundo.
Leonardo e Cláudio estão ausentes em definitivo. Orlando, aos 86 anos, vive como viveu sempre e como viveram seus irmãos: na modéstia material dos homens pobres. Lembrado só pelos que lhe dedicam a gratidão devida, porque índios, e pelos que cultivam a admiração por sua obra, pela sabedoria e pelo caráter. A demissão de Orlando Villas Bôas por fax, do cargo de assessor da Funai que lhe rendia uns mil reais, a pretexto de que já recebe outros mil, define-se com uma só palavra. No caso, lamentavelmente, insubstituível: molecagem.

Os autores
A demissão que parece iniciar a resposta punitiva do governo, cobrada pelo próprio presidente da República, para o terror oleoso na Guanabara é, retirada a fantasia, o reinício da velha farsa de transformar os mais fracos, quando não inocentes indefesos, em bodes expiatórios.
Acidentes são acidentes: algo que independe das intenções e, com frequência, as contraria. O início do vazamento pode ter sido acidental, com uma ruptura de tubulação que nada faria prever. Vá lá.
Mas a Petrobras teve três comportamentos nada acidentais. Para começar, deixou passar quase meio dia entre o início do vazamento e a primeira providência para deter a expansão do óleo, na superfície da baía e na orla. E difundiu mal-intencionada mentira sobre a quantidade do óleo vazado.
Os três são atos de responsabilidade da direção da Petrobras. E responsabilidade agravada por causar, além dos atos em si, a redução e o retardamento do socorro adicional das entidades mobilizáveis. Na direção da Petrobras, porém, é como se apenas uns quantos funcionários de últimos níveis cometessem suas gafes. Mas presidir e dirigir setores da Petrobras não é só fazer negócios. E à cúpula do governo não compete apenas nomear amigos para fazer tais negócios.
O desconto de 30% na multa aplicada à Petrobras, por haver pagamento à vista, aborreceu Fernando Henrique Cardoso e assim causou a demissão do funcionário em questão. Mas Fernando Henrique Cardoso assina todo mês, há quase dois anos, a renovação de uma medida provisória que dispensa o pagamento de multas e outras possíveis punições por agressão ao meio ambiente. A MP de Fernando Henrique satisfaz-se com a promessa formal de providências para não repetir a agressão. E nem isso é cumprido ou fiscalizado.
A própria MP é uma agressão brutal contra o meio ambiente. Não só na Guanabara. Em todo esse país devastado por queimadas, vazadouros, desmatamento e predação generalizada.


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