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JANIO DE FREITAS
O nome do ato
Em qualquer país com "elite"
dotada de caráter, os irmãos
Villas Bôas seriam cercados
sempre de todas as homenagens e cultuados como grandes
heróis da nação. Suas vidas foram de grandeza excepcional,
rara em qualquer parte do
mundo.
Leonardo e Cláudio estão ausentes em definitivo. Orlando,
aos 86 anos, vive como viveu
sempre e como viveram seus irmãos: na modéstia material
dos homens pobres. Lembrado
só pelos que lhe dedicam a gratidão devida, porque índios, e
pelos que cultivam a admiração por sua obra, pela sabedoria e pelo caráter. A demissão
de Orlando Villas Bôas por fax,
do cargo de assessor da Funai
que lhe rendia uns mil reais, a
pretexto de que já recebe outros
mil, define-se com uma só palavra. No caso, lamentavelmente,
insubstituível: molecagem.
Os autores
A demissão que parece iniciar
a resposta punitiva do governo,
cobrada pelo próprio presidente da República, para o terror
oleoso na Guanabara é, retirada a fantasia, o reinício da velha farsa de transformar os
mais fracos, quando não inocentes indefesos, em bodes expiatórios.
Acidentes são acidentes: algo
que independe das intenções e,
com frequência, as contraria. O
início do vazamento pode ter
sido acidental, com uma ruptura de tubulação que nada faria
prever. Vá lá.
Mas a Petrobras teve três
comportamentos nada acidentais. Para começar, deixou passar quase meio dia entre o início do vazamento e a primeira
providência para deter a expansão do óleo, na superfície
da baía e na orla. E difundiu
mal-intencionada mentira sobre a quantidade do óleo vazado.
Os três são atos de responsabilidade da direção da Petrobras. E responsabilidade agravada por causar, além dos atos
em si, a redução e o retardamento do socorro adicional das
entidades mobilizáveis. Na direção da Petrobras, porém, é
como se apenas uns quantos
funcionários de últimos níveis
cometessem suas gafes. Mas
presidir e dirigir setores da Petrobras não é só fazer negócios.
E à cúpula do governo não
compete apenas nomear amigos para fazer tais negócios.
O desconto de 30% na multa
aplicada à Petrobras, por haver
pagamento à vista, aborreceu
Fernando Henrique Cardoso e
assim causou a demissão do
funcionário em questão. Mas
Fernando Henrique Cardoso
assina todo mês, há quase dois
anos, a renovação de uma medida provisória que dispensa o
pagamento de multas e outras
possíveis punições por agressão
ao meio ambiente. A MP de
Fernando Henrique satisfaz-se
com a promessa formal de providências para não repetir a
agressão. E nem isso é cumprido ou fiscalizado.
A própria MP é uma agressão
brutal contra o meio ambiente.
Não só na Guanabara. Em todo esse país devastado por
queimadas, vazadouros, desmatamento e predação generalizada.
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