São Paulo, Terça-feira, 01 de Fevereiro de 2000


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Para Garotinho, frase é "barbaridade'

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos

O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PDT), classificou de "uma barbaridade" a declaração de seu companheiro de partido Leonel Brizola sobre a necessidade de "passar fogo" no presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em rota de colisão com Brizola há algum tempo, Garotinho tentou, em todo o caso, encontrar uma justificativa:
"Não acredito que o governador Brizola tenha sinceramente feito uma declaração dessas, que não condiz com o espírito de nosso partido", aliviou o governador fluminense.
Só depois acrescentou: "Embora eu considere que o modelo econômico que o país vive seja gerador de muitos problemas sociais, propor o fuzilamento do presidente é uma barbaridade".
Garotinho diz ter certeza de que a maioria do PDT não pensa como Brizola, que é presidente nacional do partido, tanto que propõe: "O Conselho Político do partido vai se reunir no dia 17, por convocação do próprio Brizola, para discutir candidatura própria ou coligação com o PT nas eleições municipais. Nessa reunião, vamos perguntar ao governador Brizola qual foi o verdadeiro teor de sua declaração".
Mas a frase é apenas para consumo público. Pelo que a Folhaapurou, Garotinho acredita que Brizola tenha dito mesmo o que lhe foi atribuído.
O que, de resto, causou-lhe constrangimento por ter sido dada no momento em que Garotinho participa de um fórum internacional (o encontro anual 2000 do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça). Mais: foi escolhido um dos 100 "líderes globais de amanhã".
Pertencer ao mesmo partido de um político capaz desse gênero de frases não é bom para quem, como Garotinho, foi apresentado em Davos como candidato presidencial.
Para sorte dele, ninguém em Davos, salvo os brasileiros, sabe muito bem o que é o PDT, Brizola ou o próprio Garotinho.

Disputa
De todo modo, a rota de colisão entre Brizola e Garotinho até dispensaria divergências em torno de uma retórica incendiária.
O governador trabalha com a hipótese de travar uma luta de vida ou morte dentro do PDT até as eleições municipais.
Nos seus planos, está o lançamento de um manifesto sob o título de "O Novo Trabalhismo", que define como a busca de um novo caminho para o trabalhismo, como opção ao novo tipo de capitalismo que está se implantando no mundo.
Garotinho teme, no entanto, ser expulso do PDT antes mesmo da eleição municipal. Acha que o grupo de Brizola lançará uma candidatura própria, apenas para constar e para desafiá-lo, já que ele se comprometeu, na campanha eleitoral de 1998, a apoiar a petista Benedita da Silva, vice-governadora.
Se mantiver o compromisso com Benedita, e o PDT tiver candidatura própria, Garotinho poderia ser submetido a um Conselho de Ética e expulso.
Nesse caso, já definiu uma linha geral a seguir quanto ao futuro partidário: só entra em uma agrupação que tenha parentesco com a sua própria história.
Se for assim, o leque de escolhas é limitado, porque o governador do Rio de Janeiro só esteve no PCB (o antigo Partido Comunista Brasileiro), no PT e, desde 1983, no PDT.
No mercado de partidos brasileiros, pouquíssimos têm parentesco com essas três agremiações.


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